Reunião golpista reforça suspeita da PF sobre Heleno em caso da “Abin paralela”

Atualizado em 16 de fevereiro de 2024 às 12:37
General Heleno e o ex-presidente Jair Bolsonaro, em imagem de arquivo — Foto: Divulgação/Carolina Antunes/PR

A fala do general Augusto Heleno, proferida durante a reunião golpista de 5 de julho de 2022, trouxe à tona uma série de questões sobre possíveis ações clandestinas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). O episódio reforça as investigações em curso da chamada “Abin Paralela”, que apura irregularidades, incluindo a suposta espionagem a adversários políticos do ex-presidente.

De acordo com os investigadores, segundo Andréia Sadi, da GloboNews, as declarações de Heleno indicam que ele seria destinatário de informações ilegais produzidas pela Abin, demonstrando conivência com atividades clandestinas. O general terá que prestar esclarecimentos à Polícia Federal sobre sua fala e outros pontos que podem ajudar nas investigações em andamento.

“O problema todo disso é se fazer qualquer coisa. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer um dos lados…”, disse o general antes de ser interrompido por Jair, que pediu para o assunto ser tratado de forma privada na sala dos dois.

Bolsonaro, por sua vez, tentou se desvincular da proposta de espionagem eleitoral atribuindo a responsabilidade ao general Heleno durante uma entrevista à TV Record na última sexta-feira (9). Ele afirmou que não tinha participação na iniciativa, atribuindo-a ao trabalho de inteligência do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional.

“É o trabalho da inteligência dele, eu não tinha participação alguma. Raramente eu usava as inteligências das Forças Armadas, a própria Abin, a Polícia Federal”, falou o ex-presidente.

Na reunião ministerial, que entrou para a História por tratar abertamente de um suposto golpe de Estado, Heleno mencionou a intenção de infiltrar agentes da Abin nas campanhas eleitorais. A falta de uma repreensão imediata e pública de Bolsonaro ao general levantou questionamentos sobre seu conhecimento e aprovação das ações propostas.

Enquanto Bolsonaro minimizou a gravidade da situação, afirmando que não via problema na abordagem de Heleno, o general prosseguiu com seus comentários, indicando uma postura mais incisiva em relação às eleições e às instituições.

“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, declarou Augusto Heleno, na ocasião.

“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”.

Em outro momento da reunião, o general Augusto Heleno mencionou ter falado com um diretor da Agência Brasileira de Investigação (Abin) sobre a possibilidade de infiltrar espiões nas apurações do TSE. O ex-presidente, no entanto, pediu que o militar falasse com ele sobre o assunto em particular.

“General, peço para que não fale, não prossiga na sua observação”, disse Bolsonaro. “Se a gente começa a falar para não vazar, vai vazar.”

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