A privatização dos rios e o lucro acima da vida. Por Anderson Pereira

Atualizado em 30 de outubro de 2021 às 13:21
Tasso Jereissati é um dos que atuam pela privatização dos rios
Tasso Jereissati é relator do Projeto de Lei 2294/19. Foto: Agência Senado

Publicado originalmente no Vermelho:

Por Anderson Pereira

Atualmente, está em curso no Brasil uma política que prevê a entrega dos seus recursos hídricos para a iniciativa privada. Às vésperas da realização da Conferência Internacional do Clima (COP26), no próximo domingo (31), na Escócia, este é um assunto que precisa ser discutido por todos os brasileiros.

Em 2020, passou a vigorar no Brasil a nova lei do saneamento básico (PL 12.026/20). O novo marco legal autoriza a entrada do setor privado nas concessões e facilita a privatização das empresas públicas de saneamento.

O relator da proposta foi o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), proprietário de um grupo que é dono de uma das maiores fabricantes de Coca-Cola do mundo. Vale lembrar que essas fábricas de refrigerantes consomem milhares de litros de água para engarrafar os seus produtos.

Há pouco mais de um mês, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2294/19, de autoria do deputado Zé Vitor (PL-MG).

O objetivo desse projeto é permitir que agricultores e pecuaristas possam represar cursos de água para a irrigação e também para matar a sede do gado.

Em resumo, as duas leis têm o mesmo objetivo: destinar mais água dos rios para o setor industrial e o agronegócio – setor que exporta a maior parte dos alimentos que produz – enquanto o restante da população sofre com a fome e a escassez de recursos hídricos.

Em Brasília, o governo Bolsonaro trabalha dia e noite para privatizar empresas públicas importantes como Furnas e a Eletrobras. As duas estatais são responsáveis por toda a geração de água e energia do país.

Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Partido Novo) adota a mesma política. O mineiro já defendeu publicamente a privatização da Cemig e da Copasa.

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Avanço da privatização dos rios ocorre às vésperas da Cúpula do Clima

A partir do próximo domingo (31/10), na Escócia, líderes do mundo inteiro reúnem-se na Cúpula do Clima. O objetivo é discutir as mudanças climáticas que afetam o planeta e a adoção de medidas sustentáveis para proteger o meio ambiente.

O Brasil tem um papel importante nessa área, por diversas razões. O país detêm 12% dos recursos hídricos do planeta. Temos também a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. Isso sem contar outros biomas importantes como o Cerrado, a Caatinga e o Pantanal.

Além disso, 70% da maior reserva subterrânea de água doce do mundo – o chamado Aquífero Guarani – está no Brasil. São cerca de 40 trilhões de metros cúbicos de água, quantidade suficiente para abastecer 2,5 vezes a população brasileira durante um ano.

A importância da água para a vida é indiscutível, tanto que, em 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a água como um direito humano essencial.

Hoje, esse direito está seriamente ameaçado por governos como o de Bolsonaro e Zema. Ambos insistem em colocar o lucro acima da vida.

Na próxima Cúpula do Clima, é importante refletir sobre que Estado queremos? Um que vê a água como um bem comum, ou outro que a vê como simples mercadoria?

 

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