*Com reportagem de Bia Andrade, especial para o DCM
O cantor gospel Salomão Vieira de Jesus, identificado pela Polícia Federal como um dos articuladores dos atos golpistas do dia 8 de Janeiro, está foragido do país há mais de oito meses, tem tido crises de choro e depressão e está perdendo peso.
Anteriormente a este período difícil, o influeciador gospel (tem, até hoje, mais de 385 mil seguidores em uma de suas redes) viveu uma uma rotina de práticas ilegais e estelionato, aplicando golpes em pessoas desavisadas por meio de uma suposta agência de viagem que nunca entregava os pacotes que “vendia” e também por meio de rifas que frustravam seus apoiadores, conforme se poderá ver ao longo desta reportagem.
Evangélico, cidadão de bem e réu por estelionato
Salomão Vieira de Jesus é evangélico. Cantor gospel conhecido e aclamado por seus irmãos de fé, nas redes sociais e nos púlpitos e palcos onde se apresenta, ou se apresentava. “Quanto maior a guerra, maior a vitória será”, cantava Salomão.
O vídeo acima é de 2021. Enquanto pregava a palavra de Jesus por meio de sua música, Salomão também emprestava sua imagem e sua voz a lutas e bandeiras mais terrenas. E objetivos mais terrenos. Um dos exemplos são os ensinamentos que comercializava em suas redes sociais, como o que segue abaixo, de 2022, sobre como “COMO GANHAR DINHEIRO COM O INSTAGRAM”.
Salomão, além de cantor gospel e professor de monetização de instagram, é também cidadão de bem. Como tal, sublevou-se contra o comunismo que espreita o Brasil. Fez parte dos acampamentos em frente a quarteis espalhados pelo Brasil. Fez parte da quebradeira do último dia 8 de janeiro, nas sedes da República, em Brasília. Abaixo, o cantor gospel voando para a capital federal.
Antes de ir para Brasília, o próprio Salomão acampou em frente a um quartel, em São Paulo. Tomou para si a responsabilidade de arrecadar dinheiro para custear a aventura golpista, pediu, implorou em nome de Deus para que enviassem depósitos via PIX. Foi atendido.
Já depois do vandalismo em Brasília no dia 8, pediu mais dinheiro para os patriotas, a ser depositado na conta bancária da mãe dele, no que chamou de “PIX do Bem”. Conforme ele mesmo descreve, após os crimes do dia 8, fugiu para o Paraguai e queria dinheiro para se manter por lá. Veja abaixo.
Cantor gospel, cidadão de bem, professor de monetização de Instagram e acusado de estelionato, com provas e mais provas. Acusado, denunciado e tornado réu, por estelionato.
Em janeiro deste ano, exatamente no dia 9, logo após a tentativa de golpe, a imprensa nacional publicou: “Articulador de invasão golpista no DF, cantor gospel Salomão Vieira já foi denunciado por golpes financeiros em 2019“. O que nao foi revelado à época nem nunca – até agora – são os autos da investigação por estelionato, que levou à denúncia e instauração de um processo penal na Justiça, como mostra trecho de decisão judicial reproduzido abaixo.
Conforme mostram os autos a que o DCM teve acesso, o cantor gospel e cidadão bem enganava seus clientes, coletava dinheiro com os desavisados que achavam estarem lidando com uma agência de turismo indônea, e depois fugia das cobranças com respostas evasivas a seus credores.
Veja, abaixo, conversas de WhatsApp anexadas ao processo por estelionato. Nelas, Salomão foge das cobranças pela entrega do serviço que prometera, o de pacotes de viagens, que ele “comercializava” por meio de sua agência “Salomão Passagens Aéreas”. São muitas, as reproduções abaixo, e são apenas uma pequena mostra das mensagens de clientes enganados pelo cantor Salomão que estão colecionadas nos autos no processo por estelionato.
Além da venda de passagens e pacotes que nunca eram entregues, Salomão também foi acusado de promever rifas que não tiveram os ganhadores revelados, conforme também consta nos autos do processo por estelionato.
Desde que o processo foi instaurdado, em abril do ano passado, Salomão Vieira ainda não deu as caras no autos da ação penal 1519390-62.2019.8.26.0050, corrente no Tribunal de Justiça de São Paulo, em que existem provas dos atos ilícitos de Salomão, que lesaram dezenas de pessoas. Atualmente, ele corre o risco de ser julgado à revelia, e seu paradeiro é desconhecido pela Justiça brasileira.