A TV Cultura excluiu o documentário “O Autoritarismo está no ar – 3 anos depois” de seu canal do YouTube após pressão do deputado federal Eduardo Bolsonaro e seus aliados. A obra era crítica à extrema direita e apresentava os riscos da ideologia para e democracia do Brasil e do mundo. A informação é do jornal O Globo.
A nova versão do documentário incluía os ataques terroristas de 8 de janeiro. A emissora é vinculada ao governo de São Paulo, por meio da Fundação Padre Anchieta, e é custeada com verbas do estado e recursos próprios obtidos com a iniciativa privada. O canal está sob o guarda-chuva da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
A obra foi exibida no dia 23 de março e irritou bolsonaristas. Eduardo levou as reclamações ao governo de Tarcísio de Freitas, argumentando que a EBC não transmitiria um documentário crítico ao MST.
Após a crítica do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi chefe de Tarcísio durante sua gestão, a TV Cultura suspendeu a exibição do documentário, que seria feita novamente na primeira semana de abril. Um funcionário do canal afirmou que a decisão é uma “censura clara” e que a retirada do conteúdo é uma prática “nada comum”.
O documentário fez com que a ofensiva contra Marília Marton, secretária de Cultura, aumentasse. Ela se declara de direita e foi responsável por reunião com o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, mas nega ter tratado do assunto na ocasião.
Ela alega que não gostou do documentário e questionou se a produção deste tipo de obra seria papel de uma emissora pública. Marília também negou ter pressionado a cúpula da emissora para apagar o vídeo e diz não ter sofrido qualquer tipo de pressão.
“A minha pergunta, enquanto secretária da Cultura e membro do Conselho, é: aquele documentário tem interesse público? Eu assisti ao documentário e particularmente achei que, se ele fosse muito bom, estaria no Netflix. Mal escrito, mal roteirizado, mal filmado”, argumenta.
A secretária também reclamou da associação entre os terroristas e a extrema direita. Ela sugeriu que o ataque pode ter contado com infiltrados.
“A gente não pode dizer que aquilo era só pessoas da direita. Será que ali não tinham pessoas que nem sabiam o que estava acontecendo? É uma ação de pessoas loucas, que não tem a ver com uma ideologia de direita”, completou.
Bolsonaristas ligados à gestão de Tarcísio disseram que José Roberto Maluf, presidente da fundação, e Eneas Carlos Pereira, diretor de programação da emissora, estão na mira de aliados de Eduardo, mas ainda não houve qualquer mudança na diretoria.
O cargo de Marília é cobiçado por Mário Frias, ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro. Ele quer indicar o sucessor da atual titular da pasta e já tentou emplacar uma indicação durante a transição, que foi negada por Tarcísio.
Bolsonaristas do governo de São Paulo defendem que a emissora dê mais espaço à visão da gestão Tarcísio, mais à direita, e que inclua quadros demitidos da Jovem Pan, como Adrilles Jorge e Augusto Nunes.