O homem-bomba que não sabia que era um homem-bomba

Atualizado em 24 de agosto de 2012 às 10:03
Integrantes do grupo Leões do Monoteísmo

 

Todos conhecemos, já, os homens-bombas, os extremistas islâmicos que matam e morrem aos pedaços em nome de sua causa. São os terroristas da Jihad (guerra santa), segundo a visão ocidental dominante. Ou os mártires de Maomé, de acordo com a visão islâmica dominante. Os homens-bombas foram uma inovação desconcertante na arte da guerra: levaram adiante a prática dos pilotos japoneses que explodiam seus aviões contra alvos inimigos, os camicases.

O homem-bomba sabe muito bem o que faz. Até em Homeland, a boa série americana de televisão, o militar americano que se converte em homem-bomba depois de aderir ao islamismo tem plena consciência do que vai acontecer com ele (e com os circunstantes) quando apertar o botão que acionará os explosivos que leva no corpo.

E quando o homem-bomba não sabe que é homem-bomba?

O mundo foi espetacularmente posto pela primeira vez diante dessa questão depois que um repórter do NY Times na Síria publicou um vídeo no qual foi apresentada uma ação de um grupo armado de oposição ao presidente Assad, os Leões do Monoteísmo.

O repórter mostrou o que os Leões fizeram com um soldado do exército sírio que fora capturado. O soldado foi bem tratado. Recomendaram que tomasse banho para dormir melhor e lhe ofereceram cigarro. Depois, disseram a ele que seria libertado: trocado por um militante do grupo que estava em poder do regime.

O combinado com os inimigos, disseram ao preso, é que a troca seria feita assim que ele chegasse a um ponto militar do exército sírio. Deram a ele uma perua para ir ao local.

O que ele ignorava é que os Leões tinham enchido o bagageiro de explosivos, caprichosamente camuflados. Eles seriam detonados, à distância, assim que a perua chegasse ao destino. Mas – como no caso de Homeland – falharam. O que entraria para a história como mais um ataque dos homens-bombas islâmicos terminou como um momento de frustração imensa para os Leões do Monoteísmo – e como uma segunda vida para o refém.

O vídeo relata essa história. Você pode vê-lo no pé deste texto. É uma peça de jornalismo extraordinária, um retrato soberbo e aterrador do que se passa na Síria nestes dias, em que um país vai sendo destruído a cada segundo num enredo em que não existem bons e maus, mas apenas vítimas: os civis que nada têm a ver com este conflito sanguinolento de interesses.