Viagem de Bolsonaro à Rússia é positiva para um mundo multipolar. Por Maringoni

O que pensar sobre a viagem para a Rússia

Atualizado em 16 de fevereiro de 2022 às 10:15
A imagem de Putin e de Bolsonaro
Bolsonaro recebe o presidente russo, Vladimir Putin, em novembro de 2019. — Foto: Alan Santos/PR

Gilberto Maringoni foi candidato ao governo de São Paulo pelo PSOL e é professor de Relações Internacionais, com livro publicado sobre a Venezuela. Ele escreve sobre a viagem de Jair Bolsonaro (PL) à Rússia.

Por mais incrível que pareça e sabendo-se que o Brasil se tornou um ator irrelevante, a viagem de Jair Bolsonaro à Rússia é positiva para a consolidação de uma ordem internacional multipolar.

Pouco importam os propósitos do boçal. O certo é que o périplo – marcado em novembro, antes da fase aguda da crise – contribui para quebrar um suposto isolamento russo e mostra que uma bipolaridade mecanicista num mundo para lá de complexo não é mais possível. Até porque a Rússia – e sua aliada, a China – jogam nos parâmetros globais impostos por Washington e pela Otan.

A excursão deixa claro que o aliado preferencial de Bolsonaro não são os Estados Unidos, mas Donald Trump, embora o Brasil seja um país subordinado ao Império.

É muito difícil que haja guerra ou invasão russa à Ucrânia. Vladimir Putin está dando um baile político em Joe Biden, ao tensionar a situação ao extremo, jogar com a divisão europeia – em especial as justas vacilações de Alemanha e França – e, especialmente, ao firmar um histórico acordo com Pequim.

O presidente estadunidense piscou e entra em uma defensiva da qual tem dificuldades de sair. Tentou mostrar força, fez bravatas – a ameaça ao funcionamento do gasoduto Nord Stream 2 é risível – e colhe desgaste interno. Provavelmente perderá as decisivas eleições de novembro para um partido Republicano que se consolida como vanguarda da extrema-direita global.

É absolutamente secundária, deste ponto de vista, a ideia de que Bolsonaro irá se encontrar com um líder conservador em direitos dos vulneráveis, como ele. No jogo de cachorro grande em que se transformou a questão euroasiática, essa é minudência que pode muito bem estar na cabeça do genocida e de seus desocupados generais.

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E outras análises sobre a viagem?

Há até análises delirantes dando conta de que os brasileiros irão a Moscou aprender técnicas de como fraudar eleições. Tais lições vêm dos EUA, pelas mãos de gente como Steve Bannon.

Com a vilegiatura, Bolsonaro colhe reprovação exaltada dos americanófilos de plantão, como Globo, farialimers e outros. Instala-se a confusão entre a direita e a extrema-direita aqui dentro. Repito: não é ruim, não. Nem um pouco.

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