Nesta quarta-feira (27), milhares de argentinos, acompanhados de sindicatos e outros grupos sociais, realizaram uma manifestação em Buenos Aires, exigindo a revogação do “decretaço” implementado pelo governo de extrema-direita, de Javier Milei, na semana passada. O anarcocapitalista também afirmou que poderia realizar uma consulta popular caso o Congresso reprove as mudanças.
A marcha reuniu federações trabalhistas de destaque, incluindo a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a Confederação dos Trabalhadores Argentinos (CTA), junto a organizações sociais, políticas e de direitos humanos, concentrando-se em frente à sede do Poder Judiciário e da Suprema Corte de Justiça da Argentina.
O protesto acontece duas semanas após o governo impor um protocolo que restringe o direito de manifestação, proibindo o fechamento de vias públicas e ameaçando os participantes com ações judiciais e a suspensão de benefícios sociais.
Nas redes sociais, já é possível ver diversos vídeos da polícia retaliando, com violência, os protestos em Buenos Aires. O canal Todo Noticias registrou o momento em que agentes imobilizam um manifestante contra o asfalto na região central da cidade.
AHORA | Incidentes en Av. Corrientes: la Policía de la Ciudad avanza sobre los manifestantes https://t.co/wktOFbX7RX pic.twitter.com/Y1fLE2EFnY
— TN – Todo Noticias (@todonoticias) December 27, 2023
Em entrevista à TV argentina na última terça-feira (26), Milei reiterou a posição, afirmando que “quem faz, paga” e disponibilizou uma linha direta para reclamações sobre a marcha, que já teria recebido 20 mil ligações, segundo o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni.
Ele também alegou que a lentidão na tramitação de projetos no Congresso pode estar relacionada ao fato de “alguns” legisladores buscarem “propina”, embora sem apresentar provas concretas. As afirmações visam destacar a oposição à corrupção no ambiente legislativo.
Durante o protesto, o dirigente do sindicato dos bancários, Sergio Palazzo, denunciou a polícia por marcar os manifestantes com tinta para identificação em possíveis processos judiciais e ações para retirada de benefícios sociais. Ele apelou para que Milei respeite a democracia em vez de agir autoritariamente.
“Quero denunciar que os manifestantes estão sendo marcados com tinta. Nos subúrbios eles também fizeram isso enquanto ninguém está fazendo nada,” afirmou Palazzo.
🇦🇷🚨|Hay más de 3 millones de empleados púbicos en Argentina y millones con planes sociales.
👉🏻Es normal que al menos un pequeño porcentaje de ellos salga a hacer lío.
👉🏻La marcha de hoy reune 8.000 personas, osea digamos un 0,3% de 3.000.000.
👉🏻Son una tremenda minoría pic.twitter.com/93jGcEYKM7
— Victor del 56% (@victorazarok) December 27, 2023
Diversos setores se uniram para tentar impedir a implementação do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), que, em uma única medida, impõe mais de 300 reformas, revogando leis, eliminando regulamentações estatais, permitindo privatizações e iniciando a flexibilização do mercado de trabalho e do sistema de saúde. A medida, prevista para entrar em vigor esta semana, está sendo contestada nos tribunais e nas ruas.
Enquanto a manifestação acontecia, o Gabinete da Presidência argentina encaminhou o “decretaço” para apreciação do Congresso. Milei, embora tenha vencido as eleições com 56% dos votos, é minoria no Congresso, o que pode dificultar a implementação de suas propostas.
Durante a entrevista, Milei também declarou que, se o Parlamento vetar o DNU, ele convocará um plebiscito. Além disso, mais de uma dúzia de queixas já foram apresentadas nos tribunais contra o megadecreto. Segundo o jornal La Nacion, advogados de empresas multinacionais estariam por trás do texto que presidente argentino pretende impor.
A marcha desta quarta-feira foi a primeira convocada pela CGT, principal sindicato do país, sob o governo de Milei. Os sindicatos planejam reunir-se novamente na quinta-feira (28) para definir um plano de luta, considerando até mesmo a possibilidade de uma greve geral de 24 horas.
Today in Argentina.
Read @peoplesdispatch for context – https://t.co/efdr7yHMwD pic.twitter.com/8Jmew0mvQM— Vijay Prashad (@vijayprashad) December 27, 2023