“Virou rotina”, diz homem perseguido por Zambelli sobre PM que assistiu jovem negro quase ser baleado

Atualizado em 14 de novembro de 2023 às 17:13
Momento em que homem aponta arma para adolescente na estação Carandiru

Infelizmente, é uma triste rotina. No último domingo (12), um caso triste e bizarro de racismo estrutural e institucional aconteceu em frente à estação Carandiru do metrô, na Zona Norte da capital paulista. O local, ironicamente, fica em frente à antiga Casa de Detenção do estado de São Paulo, local onde (oficialmente) 111 detentos foram brutalmente assassinados pela tropa de choque da PM paulista em outubro de 1992.

E neste domingo, os personagens envolvidos eram parecidos no contexto terrível em que vivemos. De um lado, um homem branco, armado e descontrolado, mas protegido pelo Estado por sua condição, aponta uma arma para um adolescente negro que só não é atingido pela fúria descontrolada do homem com a arma por conta de uma mulher, que o conhecia, que ficou na frente do garoto, implorando para que ele não atirasse.

O bizarro aparece em toda a sua forma quando um popular que estava gravando toda a cena dantesca pede ajuda para uma policial que estava uniformizada com uma camisa da PM e arma no coldre. Ela diz que não pode fazer nada pois “estava de folga”. Assintindo à toda cena, imóvel e de braços cruzados, a PM, branca ainda ameaçou prender a pessoa que estava filmando e rechaçou o jovem ameaçado com um chute.

No ano passado, na véspera do segundo turno da eleição, aconteceu algo parecido comigo. E estavam também envolvidos uma pessoa branca privilegiada (no meu caso, ainda mais por conta do cargo que ocupa), um policial armado e alguns populares filmando. Eu imagino o constrangimento pelo qual este jovem passou e a revolta que ele deve ter sentido quando viu a omissão de quem deveria proteger todos os cidadãos, sem distinção.

Mas na São Paulo em que vivemos, e que está intensificada com a escolha de um governador alinhado às práticas higienistas, isso infelizmente está se tornando rotina. E isso cansa. Cansa muito.

Pois o constrangimento de estar na mira de uma arma em uma via movimentada é terrível. Aterrorizante. Aterrador quando nós, homens pretos, pensamos em como a sociedade olha para a gente: como pessoas indignas, selvagens e que podem passar por esses medos, pois são descartáveis.

É difícil, muito difícil. Esse menino, em primeiro lugar, precisa de acolhimento. E, quanto à Polícia Militar de São Paulo, infelizmente essa não tem mais jeito.