Exclusivo: Aloysio defende chapa Lula-Alckmin e diz que ameaça comunista é vigarice

Atualizado em 2 de fevereiro de 2022 às 9:28
A imagem de Lula e Aloysio Nunes
Lula e Aloysio Nunes. Foto: Wikimedia Commons/Ricardo Stuckert

Poucas vezes um cardeal do partido se abriu tanto. Nesta entrevista exclusiva ao DCM, o ex-senador tucano Aloysio Nunes falou sobre a aproximação de Alckmin com Lula. “Convergência entre forças de esquerda e de centro para reconstruir o que Bolsonaro destruiu ou degradou”, disse.

Ficou em cima do muro sobre o impeachment de Dilma.

“Lamento, mas não me arrependo: quando o processo chegou ao Senado o destino do mandato da Presidente já estava selado e o governo colapsado”.

Diz que a direita moderada que se reconhecia, em parte no PSDB, acabou sendo arrastada por posições extremistas. Fala do Partidão e, por fim, dá a sua visão sobre a ameaça comunista: “É uma vigarice para enganar trouxas. Comunismo só na Coreia do Norte e em Cuba, aqui não”.

Leia a entrevista:

DCM: O senhor é a favor ou contra a aproximação entre Lula e Alckmin?

Aloysio Nunes: A hipótese de Alckimin ser vice de Lula aponta para a necessidade da convergência entre forças de esquerda e de centro para reconstruir o que Bolsonaro destruiu ou degradou.

Qual sua análise do Brasil dos últimos anos?

No processo do impeachment, a direita moderada que se reconhecia em parte no PSDB acabou sendo arrastada por posições extremistas. Nas eleições de 2018, muitos dos candidatos tucanos fizeram campanha aberta ou veladamente para Bolsonaro e deixaram Alckimin entregue à própria sorte.

Por outro lado o candidato do PT, talvez constrangido pelos ressentimentos acumulados em razão da destituição da Presidente, não fez nenhum gesto para a formação da frente que teria sido capaz de barrar a extrema direita.

O senhor foi motorista de Marighella e pertenceu ao Partidão: como se considera do ponto de vista ideológico?

Fui membro do PCB e rompi com o partido acompanhando Marighella e outros dirigentes comunistas que preconizavam a luta armada para derrrotar a ditadura, o que se verificou ser um erro trágico.

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Mais tarde voltei ao PCB e nele permaneci até o seu fim em 1986, por considerar que a estratégia proposta pelo Pardidão, de luta política de massas para alicerçar uma ampla frente democrática era a mais adequada para derrotar e ditadura e redemocratizar o Brasil.

Hoje não sou comunista, sou um social democrata de esquerda.

O senhor se arrepende de ter votado pelo impeachment de Dilma?

Já me referi a algumas das consequências negativas do impeachment acima.

Quanto à minha participação, lamento porque aprofundou o abismo entre as forças que foram responsáveis pelos avanços democráticos e civilizatórios que o Brasil conheceu nos últimos 30 anos, e não me refiro apenas ao PT e ao PSDB.

Mas não me arrependo porque quando o processo chegou ao Senado o destino do mandato da Presidente já estava selado.

O impeachment já estava selado

Ela não havia conseguido obter sequer o apoio de 175 deputados que seria suficiente para arquivar a proposta. A governabilidade colapsou. Temer assumiu provisoriamente e formou um governo em que figuravam alguns integrantes do governo Dilma, ao lado de representantes da oposição: era fato consumado, tanto pelas razões jurídicas apontadas pelo parecer do senador Anastasia quanto pelas razões políticas evidenciadas no colapso de sua sustentação.

O Brasil suporta um segundo mandato de Bolsonaro?

Não vejo nenhuma vantagem em um Bolsonaro 2.

Ele é o mais despreparado, relapso e indecoroso governante que tivemos desde Tomé de Souza. Além disso, ele lidera uma corrente política que representa a negação dos valores democráticos que são a base de uma convivência civilizada entre nós.

O esforço dos que querem virar essa página deve ser para tirar Bolsonaro do segundo turno: se ele sobreviver até a rodada final ele perde, mas consegue uma votação expressiva que o habilitaria a fazer aqui o papel que Trump faz hoje nos Estados Unidos.

O senhor consegue enxergar alguma qualidade nos governos do PT?

Desde a redemocratização o Brasil tem sido governado por presidentes reformistas de esquerda com apoio de setores políticos de direita moderada e tem avançado muito em todos os requisitos de uma boa política, na manutenção da democracia, na defesa do meio ambiente, na inclusão social, na saúde, na política externa, na promoção dos diretos humanos, na reforma agrária, no apoio a ciência, na educação.

Ameaça comunista

De Sarney até hoje o Brasil melhorou apesar desse hiato infeliz do atual governo. Fiz oposição aos governos do PT, mas muitas vezes apoiei iniciativas seja de Lula, seja de Dilma a começar pela continuidade da reforma previdenciária no primeiro governo, até o Marco Civil e a Comissão da verdade no governo Dilma

O Código Florestal foi uma construção em que todas as forças democráticas colaboraram e é um motivo de orgulho para todos nós: tomara que possamos resgatar esse espírito.

Afinal, com Lula na lideranças das pesquisas, o Brasil vive ou não uma ameaça comunista?

Essa história de ameaça comunista no Brasil é uma vigarice para enganar trouxas.

Comunismo só na Coreia do Norte e em Cuba, aqui não. Aliás ,o PCdo B deixou de ser comunista há muito tempo.

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