Briga de youtubers bolsonaristas expõe possível identidade do cérebro do gabinete do ódio. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 2 de setembro de 2020 às 1:42
Mauro Fagundes e Teff Ferrari, que foram um casal, no Terça Livre. E o perfil anônimo Let’s Dex. Foto: Reprodução/Twitter

No dia 3 de maio de 2020, o DCM começou uma série de reportagens sobre o chamado “gabinete do ódio” baseado em um documento que foi encaminhado para a CPMI das Fake News. No primeiro texto, foi contado como Eduardo e Carlos Bolsonaro se relacionaram diretamente com militantes bolsonaristas conectados com assessores de deputados. 

Um dos personagens importantes das redes bolsonaristas é uma conta anônima chamada Let’s Dex. No segundo texto, foi apontado que a identidade do Dex é aparentemente conhecida pelo advogado Evandro Pontes e pelo dono do site Terça Livre, Allan dos Santos. Os dois, sendo olavistas, já foram mais próximos e brigaram antes da saída de Pontes do Twitter.

Evandro Pontes

Professor de Direito, Pontes deu palestras em instituições como a Fundação Alexandre de Gusmão por ajuda de Filipe G. Martins, o assessor de Bolsonaro que faz a ponte do governo com Olavo de Carvalho. Ele tinha pretensões de prosperar na Era Jair Bolsonaro com cargo dentro da AGU e outras instituições. Nunca conseguiu e só permaneceu em veículos de comunicação bolsonaristas, como a Rádio Shockwave.

Em outra reportagem do DCM, uma atualização no dossiê sobre o gabinete do ódio e as milícias bolsonaristas conectou a youtuber bolsonarista Teff Ferrari diretamente ao presidente Bolsonaro. Ela já havia entrevistado o Let’s Dex e possuía uma fama no universo de podcasts, que envolve a própria Shockwave.

Teff fez um crowdfunding para se mudar para Brasília e foi abrigada na mansão do próprio Allan dos Santos do Terça Livre. Depois, ganhou um cargo no gabinete da deputada Carla Zambelli, embora tenha sido aprovada no auxílio emergencial do governo em plena pandemia do Covid-19.

Uma briga de casal acabou conectando os três nomes.

Os youtubers Mauro Fagundes e Teff Ferrari, que foram um casal e hoje estão rompidos. Foto: Reprodução/Twitter

Nesta segunda, 31 de agosto, um fio de posts (thread) de Teff Ferrari expôs o relacionamento dela com o youtuber Mauro Fagundes. Mauro é um produtor de conteúdo que cresceu no cenário bolsonarista atacando Nando Moura. Ganhou um encontro com o presidente graças ao seu desempenho no YouTube.

Ele e Teff se relacionaram, embora ela insista que não tenha sido um namoro. A youtuber escreveu que ficou um tempo “mal” e que se “machucou” com conversas de um parceiro que a chamava de “meu amorzinho”. “Eu não sou a lei, não sou a juíza, eu, infelizmente hoje, sou a vítima”, disse, antes de postar uma série de imagens de conversas de WhatsApp.

Teff Ferrari quando estava bem com Mauro Fagundes e quando rompeu. Foto: Reprodução/YouTube/WhatsApp

Nos diálogos, Mauro insiste na ideia de que “foi traído” por Teff Ferrari no momento que ela exaltou uma conta anônima chamada “Leitadas do l0en”, que vive fazendo ataques no Twitter num estilo similar ao Dex. “Tá achando que eu sou idiota?”. “Sempre refem desses porras (sic). Dex”. “Me trocaste. Pra pagar pau de f**** d* p*** de Twitter”.

A briga entre Teff Ferrari e Mauro Fagundes. Foto: Reprodução/WhatsApp
A briga entre Teff Ferrari e Mauro Fagundes. Foto: Reprodução/WhatsApp

Em outra mensagem, Mauro Fagundes insinua que ela teve relacionamentos anteriores com eles. “Ah, aproveita. E conversa com o Dex. Com o Pontes. Fala com teus três ex-namorados que são teus cuidadores”.

Mauro Fagundes brigando com Teff Ferrari. Foto: Reprodução/WhatsApp
Mauro Fagundes brigando com Teff Ferrari. Foto: Reprodução/WhatsApp

Ao final da thread, Teff postou um boletim de ocorrência pedindo medida protetiva “de urgência” contra Mauro Fagundes. Num tuíte nesse mesmo fio, respondendo a um seguidor, ela dá a entender que a agressão de Mauro saiu do campo verbal e foi para a agressão física – mas não apresenta provas na rede social. A youtuber diz que Mauro confessou a agressão para Italo Lorenzon, um dos fundadores do Terça Livre com Allan.

Teff Ferrari cobra que Mauro Fagundes seja expulso do canal Terça Livre. “Se você acredita realmente que eu deveria expulsar alguém da bancada do meu canal com base numa acusação sem aguardar o resultado, eu peço que você se desinscreva do canal, deixe de me seguir e retire todos os apoios. Rápido, fácil, indolor e não enche o saco alheio”, responde Italo na rede social.

 

O BO que Teff Ferrari abriu contra Mauro Fagundes. Foto: Reprodução/Twitter
O BO que Teff Ferrari abriu contra Mauro Fagundes. Foto: Reprodução/Twitter

Além das acusações contra Mauro, Teff posta também um diálogo tornado público em 13 de julho por Let’s Dex. Ele fala com um bolsonarista chamado Caio, amigo de Mauro. Tentando desmoralizar o ex e dar razão para Dex, Teff Ferrari expôs uma dúvida que ronda o gabinete do ódio e que está gerando brigas entre as milícias bolsonaristas: qual é a verdadeira identidade dessas contas que fazem ataques, defendem Bolsonaro e têm alto engajamento na rede?

Caio escreve em um diálogo no Twitter:

“Então. O que está rolando, Dex, é que eu acho que você é o Evandro [Pontes] com o Fernando Melo. Vocês que compraram todos os vapores [militantes bolsonaristas vaporwave]. Por que você parou de tretar com o Allan [dos Santos, dono do Terça Livre]?”.

aio, amigo do youtuber Mauro Fagundes, recebeu uma encomenda para “hackear” o Dex. Foto: Reprodução/Twitter
aio, amigo do youtuber Mauro Fagundes, recebeu uma encomenda para “hackear” o Dex. Foto: Reprodução/Twitter

Dex respondeu, negando as suspeitas:

“Se você inventou isso, você é esquizofrênico. Se te falaram, estão te sacaneando”.

Let’s Dex pode negar que seja Evandro Pontes ou que esteja ligado ao advogado. No entanto, no dia 6 de fevereiro de 2020, Dex deu orientações jurídicas para atacar o deputado Alexandre Frota na CPMI das Fake News. Essas orientações foram acatadas pelo deputado bolsonarista Filipe Barros dias depois, o que sugere uma ação coordenada para tentar punir ou prender um parlamentar de oposição ao governo.

Consultando diferentes fontes, o DCM tem como apontar como Evandro controla ou influencia a conta Dex.

No dia 30 de maio, o deputado Frota postou o seguinte no Twitter:

“Lenda Urbana Digital. Eu acho que ele se refere ao [Let’s] Dex original, porém com mentiras, é claro. O Dex original, que se chamaria Ricardo Dexheimer, gaúcho, apenas está sem endereço conhecido. Porém não há registro que ele tenha deixado o Brasil. Tanto o Dex original como o Judeu, o Pavão Misterioso [fake ligado ao Carlos Bolsonaro], sumiram da praça, ambos ‘amigos’ do Allan Dos Santos. Entre os MAV inclusive circulam lendas urbanas que mandaram matar eles pois iam abrir a boca. Mas isso é técnica para aterrorizar os outros apenas. Este Dex está fazendo um gozação com a Verdade para torná-la Pós Verdade. Simples assim”.

O que Alexandre Frota explicou é exatamente o que acontece com essas contas anônimas que contribuem para mobilizar os militantes e as milícias fiéis a Bolsonaro. A conta Dex tinha conexão com Ricardo Dexheimer, do Rio Grande do Sul, e depois passou a ser associada com um rapaz chamado Philipe Gomes, cuja conta no Twitter é @Urameshi871.

E esse perfil foi suspenso da rede.

Assim como Evandro Pontes também apagou seu Twitter. O Let’s Dex, no entanto, segue atuando na rede social e jogou o nome do “Leitadas” nos Trending Topics do Twitter, com mais de quatro mil menções.

Pela quantidade de informações que circulam para o Dex e como Teff o defendeu, é bem provável que Evandro Pontes, um militante que teve ligações com Allan do Terça Livre e com a própria família Bolsonaro, esteja por trás.

Enquanto Teff Ferrari e Mauro Fagundes estavam brigando. Allan dos Santos, que é amigo de Evandro, tentou minimizar a repercussão. ”Problemas de relacionamento pessoal não serão resolvidos por mim, acredite. E não vou entrar na vida dos outros enquanto tento superar um desafio com minha filha. Meu foco agora é trabalhar e tirar minha filha da UTI”, disse.

Evandro Pontes, da Rádio Shockwave, e seu amigo Allan dos Santos. Foto: Reprodução

Para eles não é interessante que as pessoas saibam como operam as milícias extremistas do presidente Jair Bolsonaro.

Revelar quem é o Dex seria entregar o jogo e os mecanismos que permitem a viralização deles nas redes, além do uso de robôs e promoção de desinformação.

Let’s Dex, o anônimo bolsonarista que causa confusão dentro do meio bolsonarista. Foto: Reprodução/Twitter

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