Cientista social identifica o pai em vídeo de palestra racista de Demétrio Magnolli

Atualizado em 9 de outubro de 2021 às 16:23
Preta Ijimú identifica pai em vídeo de palestra racista; – Foto: Reprodução

Neste fim de semana viralizou vídeo do lançamento de livro de Demétrio Magnolli na UNB em 2009. À época, ele estava lançando o livro “Gota de sangue – Uma história do pensamento racial”. O comentarista da Globo fazia um debate racista com uma bancada formada somente por brancos, a maioria homens.

Magnolli criticava as cotas raciais até que um homem negro, que lidera um movimento, se levantou para tratar sobre o tema.

A volta do vídeo gerou repercussão nas redes. A cientista social, Nailah Neves Veleci – a Preta Ijimú – comentou a publicação, lembrando a presença do pai, Wilson Veleci, que aparece no vídeo com a camiseta “orgulho negro”. Confira a nota na íntegra mais abaixo.

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Wilson Veleci

Esse fio resgatou imagens da luta das cotas raciais e eu preciso falar sobre o meu pai, Wilson Veleci, que é o homem de blusa preta escrita Orgulho Negro e que levanta a bandeira do MNU. Precisamos falar sobre esses heróis da luta negra q ñ sabemos os nomes.

Eu falo com mt orgulho e sem humildade (pq foi muito suor e ameaça contra a minha família) que as cotas raciais só foram implantadas na UnB e reconhecidas no STF (e depois descaracterizadas no Congresso, apesar da resistência de parlamentares negros) graças a meu pai e esse grupo.

Um grupo formado por militantes do MNU e obviamente de outros movimentos negros. Um grupo q teve q convencer mt da própria intelectualidade negra a importância das cotas raciais assim como de políticos negros de esquerda sobre o fato q uma política de classe ñ resolveria a racial.

E o que eu sempre achei incrível desse grupo de militantes negros é como eles foram estratégicos. Hoje em dia a galera cobra muito ver a ação dos ativistas, exigem um posicionamento nas redes de cada racismo que acontece. Bem, esse grupo ocupou cargos Administrativos no silêncio.

Enquanto parte da militância negra estava produzindo conceitos e teorias na academia e outra estava negociando políticas públicas no campo político, nós tínhamos (e ainda temos) a parte desconhecida dessa luta, os militantes q no silêncio mudaram os protocolos da Adm. Pública.

Um grupo que sendo servidores públicos aprenderam a burocracia e aprenderam as brechas e os argumentos pra quebrar essas burocracias. Um grupo que aqui em Bsb comunicava e recebia os militantes do Brasil todo quando precisavam atuar estrategicamente. Numa época sem Whatsapp.

Foi com meu pai que eu aprendi que tem momentos de grito e tem momentos de silêncio estratégico, de ocultar os nossos argumentos para o momento certo do debate para que a branquitude ñ faça o que faz hj; aprende nossos argumentos e os esvazia antes do debate principal.

Qnd vejo esse vídeo, q eu sei q a ação da militância foi planejada, q os convidados foram todos estudados, q o esquema para entrar foi estudado, pq era óbvio q vários negros chegando junto não iria passar nem na porta é que eu reflito o quanto temos q aprender com os mais velhos.

Planejaram inclusive quem iria confrontar cientes da retaliação. Esse é apenas um dos vários vídeos das várias ações como essa na luta pelas cotas raciais. E esses q lutaram e deram a cara ficaram marcados, meu pai já tinha me preparado q eu seria perseguida na UnB por filha dele.

Vivemos num país racista em que o projeto fundacional e de desenvolvimento foi e continua sendo o genocídio negro e indígena. É de extrema importância ocuparmos espaços de visibilidade e divulgarmos nossa pauta, mas tb é termos alguns agindo no anonimato para continuarem a luta.

O genocídio negro como um todo é perverso, mas o fato da maioria das vítimas serem a juventude negra, é um recado claro de guerra da branquitude; nossos mais novos não podem virar mais velhos e assim, não podem nos ensinar suas estratégias de sobrevivência.

Temos mt o q aprender com os nossos mais velhos, aprender com os erros e os acertos. Aprender principalmente aonde falamos e com quem falamos sobre nossas lutas. Mt vezes vocês ñ estão vendo a ação sendo feita e metendo um pau em militantes, mas na verdade eles são os q mais agem.

Como uma boa filha de Oxum eu concluo esse fio com: Ogum pode até ser o senhor da guerra, mas quem vence batalhas antes mesmo delas começarem é Oxum.

PS

Mostrei o comentário de vocês pra papai. Ele ficou muito feliz que estão resgatando essa história. Disse que nós jovens temos tudo pra fazermos melhor que a geração dele.