Em depoimento comovente na CPI, parentes de vítimas da Covid-19 criticam Bolsonaro e cobram justiça

Atualizado em 18 de outubro de 2021 às 15:58
CPI ouve afetados pela Covid-19
Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia realiza audiência pública destinada a ouvir o depoimento de vítimas diretas e indiretas atingidas pela Covid-19; –
Foto; Edilson Rodrigues/Agência Senado

A CPI da Pandemia no Senado ouviu nesta segunda-feira (18) o relato de pessoas afetadas pela Covid-19. Os depoentes relataram aos senadores como perderam pais, marido, filho, irmã e cobraram justiça, além de criticar o presidente Jair Bolsonaro. 

O Brasil registrou até este domingo (17) 603.324 óbitos por Covid e 21.642.194 casos confirmados desde o início da pandemia. Mesmo assim, Bolsonaro ainda contraria a ciência, promove aglomerações e critica o uso de máscara. 

Ainda durante a sessão, o taxista Márcio Antonio do Nascimento Silva, que perdeu o filho para a doença, entregou uma caixa com os lenços que a ONG Rio de Paz usou para fazer um ato em Copacabana, simbolizando as mais de 600 mil vítimas da Covid.

Críticas ao presidente

Katia Castilho, que perdeu os pais para a Covid, contou os últimos momentos com a mãe no hospital e como as declarações de Bolsonaro são “dolorosas”.

“A dor é grande, mas a vontade de justiça é maior. Estou aqui hoje para representar as várias famílias que passaram pela dor que passamos. É por isso que estou tão emocionada de estar aqui. São vidas, sonhos, histórias encerradas por tantas negligências. E nós queremos justiça. O sangue de cada uma das vítimas escorre nas mãos de cada um que subestimou o vírus”, afirmou Katia Castilho, que perdeu os pais para a Covid.

“Por isso é que eu falo que quando a gente vê um presidente da República imitando uma pessoa com falta de ar, isso para nós é muito doloroso. Se ele tivesse ideia do mal que ele faz para a nação, além de todo o mal que ele já fez, ele não faria isso”, afirmou.

O presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Alves de Sá Costa também detonou Bolsonaro. Para ele, o presidente foi a “antítese de tudo o que se esperava de um presidente da República”.

“Jamais o vimos derramar lágrima de compaixão ou expressar profundo pesar pelo povo brasileiro. Não soubemos de favela que ele tenha visitado ou hospital para o qual tenha se dirigido, a fim de comunicar ânimo aos nossos profissionais de saúde. Nenhuma palavra de direção ou encorajamento às milhões de famílias aturdidas com a crise múltipla que se estabeleceu no nosso país”, afirmou.

“Me perdoe mais uma vez o desabafo: ridículo, ridículo. Ninguém aceitaria isso em nenhuma nação livre e desenvolvida”, completou.

Emoção

Em um depoimento nesta segunda (18), o intérprete de libras que fazia a transcrição da fala da jovem Geovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, não aguentou e se emocionou ao escutar o relato da menina.

Ela perdeu os pais para a doença e ficará com a guarda da irmã, de apenas 10 anos. “Eu, meus pais e minha irmã éramos muito unidos. Quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava. Eu vi que precisava da minha irmã e ela precisava de mim; eu me apoiava nela e ela se apoiava em mim. A partir dali, vi que eu não poderia ficar mais sem ela”, disse.

CPI da Covid-19 parou o genocídio

A CPI da Pandemia “não acabou em pizza”. A constatação é de senadores que integram a comissão. De acordo com os congressistas, a investigação parlamentar cumpriu o papel de “estancar o genocídio” promovido por meio de ações e omissões do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus.

O relatório final, que será lido pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL) na quarta-feira (20) – a leitura estava agendada para terça (19), mas foi adiada no domingo (17) –, irá refletir o teor das duas linhas principais de acusação contra o Executivo: a primeira é a prática “negacionista” materializada em um suposto boicote à compra de vacinas e na apologia a tratamentos ineficazes; a segunda tem como foco a corrupção no Ministério da Saúde.

A votação do relatório está marcada para a terça-feira da semana seguinte, dia 26. A decisão pelo adiamento da leitura e da votação foi do presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), diante de divergências dos senadores em relação a pontos que estarão presentes no texto.