E se as granadas de Jefferson não tiverem nenhum efeito? Por Moisés Mendes

Atualizado em 25 de outubro de 2022 às 16:06
O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB). Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes

Bolsonaro diz que não sabe quase nada de Roberto Jefferson. Que nunca foram amigos ou aliados, que ele não quer saber do ataque do sujeito aos policiais federais e que Jefferson se vire sozinho.

Bolsonaro joga com um detalhe relevante sobre a capacidade de discernimento da população. É possível que um contingente significativo não saiba de nada das relações dele com Jefferson.

Mas quanto por cento dos brasileiros nada sabem dessa convivência e desse conluio? Só uma pesquisa poderia revelar. Não deve ser pouca gente.

O que se sabe, para complicar o raciocínio, é que a grande maioria das pessoas preza a democracia, que não quer saber de armamentismo e que defende as vacinações.

Os números para qualquer desses itens são superiores a 70%, segundo as pesquisas. Uma minoria apoia ditaduras, defende o uso de armas e condena as imunizações.

Mas quase metade dos brasileiros expressa o desejo de votar em Bolsonaro, que representa tudo o que mais de 70% dos eleitores dizem rejeitar.

Muitas das mesmas pessoas que defendem inclusive a vacinação obrigatória (79%, segundo pesquisa de fevereiro do Instituto Ipsos) não levam os filhos para tomar vacinas obrigatórias.

Há uma distância enorme entre posições aparentes e a realidade. Essa desconexão leva a pensar que o atentado de Jefferson contra policiais federais talvez não seja percebido como um ato praticado por um extremista ligado a Bolsonaro.

E é provável também que, mesmo percebido, o episódio não seja considerado tão grave pelo eleitor mais cínico a ponto de provocar mudança no voto.

Nesse ambiente, as pesquisas sobre intenção de voto talvez não sejam suficientes para esclarecer a situação de desconhecimento da relação Jeff-Bolsonaro e/ou de menosprezo pelo fato. Mas as pesquisas podem ajudar.

Teremos até o final da semana para saber se o ataque de Jefferson abateu também a candidatura do sujeito, ou se tudo segue como antes.

O Ipec divulgado nessa segunda-feira, com Lula com 54% e o outro com 46% dos votos válidos, tem o mesmo resultado da semana passada. Mas ainda não captou o efeito das granadas de Jefferson, se é que esse efeito existe.

É possível supor, sem exagero, que se tivesse ocorrido uma tragédia no domingo, com a morte de um dos policiais pelo bandido bolsonarista, não acontecesse impacto significativo na eleição.

Assim como não tiveram impacto até agora nas pesquisas a invasão da Basílica de Aparecida por milicianos e o vídeo em que o sujeito fala do clima que pintou com as meninas venezuelanas.

É terrível, é triste, mas é a realidade. Questões que passam por abordagens éticas ou morais não abalam o bolsonarismo.

Texto publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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