Endemia: por que Bolsonaro rebaixar status da Covid-19 é um erro

Atualizado em 3 de março de 2022 às 14:22
Jair Bolsonaro em aglomeração; Presidente quer mudar status da Covid-19 para endemia
Jair Bolsonaro causando aglomeração durante a pandemia.
Foto: José Dias/PR/Divulgação

Na manhã desta quinta-feira (3), o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que o governo estuda mudar o status da Covid-19 no Brasil. Hoje considerada uma pandemia, a doença passaria a ser classificada como uma endemia no país.

Em virtude da melhora do cenário epidemiológico e de acordo com o § 2° do Art. 1° da Lei 13.979/2020, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estuda rebaixar para ENDEMIA a atual situação da COVID-19 no Brasil”, afirmou o chefe do Executivo em publicação nas redes sociais.

Se o status do vírus for de fato rebaixado, a doença provocada pelo coronavírus deixará de ser vista como uma emergência de saúde. Consequentemente, muitas das medidas repudiadas por Bolsonaro, como uso de máscaras, proibição de aglomerações e exigência de passaporte vacinal, deixarão de ser aplicadas.

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Na semana passada, quando o Brasil ainda registrava uma média móvel acima de 800 mortes diárias pelo vírus, Queiroga afirmou que a vacinação contribui para acabar com o “caráter pandêmico da Covid-19”. Ele já havia sinalizado anteriormente que o governo quer rebaixar a classificação da doença para uma “endemia”.

Segundo especialistas entrevistados pelo G1, a mudança de pandemia para endemia seria uma decisão “arriscada”, “precipitada” e de um “otimismo preguiçoso”. Um dos motivos é o fato de que o número de mortes e casos ainda é muito superior a outras endemias classificadas no país, como a dengue. Isso não estaria de acordo com o status endêmico.

Outra razão é que a ômicron ainda está em circulação e possui uma alta taxa de transmissibilidade. Não existe a certeza de que novas variantes possam surgir e causar mais estrago. Além disso, o enfrentamento da ômicron exige uma alta taxa de vacinação, com doses de reforço. O estado de São Paulo é o único onde mais de 50% da população receberam as 3 doses.

De acordo com o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, março deve ser o mês que marcará a “passagem” da onda da ômicron. Mesmo assim, a vacinação e as infecções prévias devem contribuir para uma fase de transição da pandemia para endemia. Mas isso não deve acontecer tão cedo.

“A gente vai sim caminhar para o fim da pandemia e isso vai ser mais tranquilo se a gente tiver maior cobertura vacinal. Quando a letalidade reduzir, teremos um momento mais tranquilo e essa transição”, afirmou o médico.

O especialista alerta que a Covid ainda tem uma taxa de morte entre 2 e 3 vezes maior que a da influenza. Segundo ele, as taxas de vacinação ainda precisam melhorar.

A diferença entre endemia e pandemia

Endemia é a classificação dada para doenças recorrentes, típicas, que se manifestam com frequência em uma determinada região, mas para a qual a população e os serviços de saúde já estão preparados.

Já a pandemia consiste na disseminação mundial de uma doença (epidemia) à qual a maioria das pessoas não é imune. Ela pode surgir quando um agente infeccioso se espalha ao redor do mundo.

Desde março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica que o planeta vive uma pandemia. No final de janeiro, o diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus, afirmou que a pandemia está longe de acabar.

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