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Setubal, do Itaú, diz que quer “acreditar na 3ª via” e inventa que não há crescimento há 40 anos no Brasil

Veja o Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco
Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco. Foto: Reprodução/Instagram

O banqueiro Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, deu entrevista aos jornalistas David Friedlander e Alexandre Calais no Estado de S.Paulo. Falou sobre terceira via.

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O que Setubal disse?

Inflação alta de novo, desemprego gigantesco e ainda tem a pandemia. A impressão que temos não é apenas de que o País está parado, mas, pior, que ele está desandando. É possível reverter esse cenário a curto prazo, ainda mais levando em conta que teremos uma eleição que promete ser tensa ano que vem?

Não, não é possível. Na verdade, vejo a economia brasileira em decadência. Estamos há aproximadamente 40 anos sem crescimento da renda per capita. Isso é gravíssimo e, de certa forma, é diferente do que aconteceu no mundo. Vários países eram pobres há 50 anos e, hoje, estão se aproximando da renda dos países desenvolvidos. Nós, nos últimos 40 anos, tivemos momentos de melhora, como quando se controlou a inflação. Mas, de forma geral, continuamos no mesmo nível de renda de 40 anos atrás. Isso é um desastre do ponto de vista social. Não vamos melhorar a renda das pessoas sem crescimento. Eu acho que o País não vem focando no crescimento.

O que o sr. chama de focar no crescimento?

A economia precisa de um choque. Precisamos entrar numa agenda forte de reformas, que precisam focar no aumento da produtividade da economia e no aumento dos investimentos. Penso, por exemplo, em uma reforma trabalhista que aumente a produtividade. Abertura econômica também aumenta a produtividade. Sem falar numa reforma tributária. Temos um sistema tributário muito complexo e repleto de distorções, que foi sendo criado por remendos com objetivo único de aumentar a arrecadação. Não tem qualquer objetivo de justiça social, nem de fazer a economia alocar recursos eficientemente.

Mas houve uma reforma trabalhista em 2017. O sr. acha que é preciso mudar mais coisas?

Acho que melhorou alguma coisa, mas acredito que ainda está longe de ser o que nós precisamos de verdade para tornar o Brasil mais competitivo.

O sr. espera alguma reforma ainda neste governo?

Difícil, mas não é só pelo governo. Não culpo só esse governo, ou o governo anterior, ou o outro. A estrutura partidária do Brasil hoje, com, sei lá, mais de 30 partidos no Congresso, torna muito difícil conseguir uma maioria efetiva para aprovar reformas. Quando se propõe uma mudança hoje, com 30 partidos, para se formar essa maioria acaba fazendo muitas concessões, muitas coisas que acabam descaracterizando os projetos. Isso quando se consegue aprovar. É necessário reduzir o número de partidos. 

Nos últimos meses, empresários, empresas e associações têm manifestado inquietação com os rumos do País, com uma ênfase que não se via antes. Foram cartas e declarações em defesa do meio ambiente, das reformas e da democracia. O que fez vocês se exporem mais, principalmente contra posições do governo?

É importante a sociedade civil se manifestar. Mostrar sua preocupação, a importância de se ter um ambiente político mais estável, menos extremado. É o início de uma conscientização de que precisamos fazer mudanças no País. Acho que talvez seja o início de um processo político mais amplo. E, a meu ver, tem um impacto junto aos políticos. A própria Febraban fez uma manifestação, o que é uma certa novidade. Sempre foi muito low profile, e dessa vez se colocou um pouco mais claramente em relação a todos esses problemas. Quando se olha a lista de todo mundo que se manifestou, as entidades, principalmente, é algo muito significativo.