Facções que impõem terror no Equador têm ligações com PCC e CV no Brasil

Atualizado em 13 de janeiro de 2024 às 8:15
Criminosos invadiram um programa ao vivo no Equador. Foto: reprodução

O cenário de terror vivido no Equador, impulsionado pelo crime organizado, tem conexões com facções brasileiras, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).

O pesquisador John Henry Murdy, doutorando em Ciência Política pela Universidade de Chicago, destacou, em entrevista ao Metrópoles, o papel estratégico do Equador no escoamento de drogas da Colômbia e do Peru, principais produtores de cocaína do mundo.

“Esses grupos equatorianos transportam drogas através do país, às vezes armazenando-as dentro do Equador, e depois repassam para o CV e PCC no Brasil”, afirmou Murdy, que baseia suas conclusões em pesquisa de três meses no país sul-americano e informações da inteligência policial equatoriana.

O pesquisador destacou a falta de controle sobre as prisões equatorianas pelo governo, especialmente após a fuga do líder da gangue Los Choneros, José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito. A atual onda de violência teve início após Fito escapar da prisão, desencadeando rebeliões em diversas cadeias do país.

Benjamin Lessing, professor associado de ciência política na Universidade de Chicago, apontou que o vínculo logístico entre esses grupos não está diretamente ligado à atual onda de violência, mas sim às tensões crescentes após a decretação do estado de exceção pelo presidente Daniel Noboa. Diante da escalada de violência, Noboa decretou que o Equador está em estado de “conflito armado interno”.

O professor Lessing também ressaltou similaridades entre as facções equatorianas e brasileiras, incluindo motins coordenados em prisões e o uso de emissoras de comunicação para transmitir mensagens, como no caso em que criminosos invadiram o estúdio da TC Television, em Guayaquil.

Grupos do crime organizado do Equador também têm laços com cartéis mexicanos, como Sinaloa e Jalisco Nueva Generación, além da máfia Balcânica, do leste europeu. Em troca de apoio logístico, essas facções equatorianas recebem dinheiro, armas e drogas.

O acordo de paz na Colômbia, que desmobilizou guerrilheiros e paramilitares, contribuiu para a proliferação de grupos dissidentes e migração desses grupos para operações no Equador. A região amazônica compartilhada entre equatorianos e facções brasileiras torna-se um ponto crítico, intensificando o tráfico na região.

O relatório da Polícia Nacional do Equador destaca a vulnerabilidade do país devido à falta de controle nas fronteiras, setores portuários e aéreos. A região tornou-se uma plataforma prioritária para a coleta e envio de drogas para mercados internacionais, gerando aumento nas apreensões de cocaína e homicídios.

Forças de segurança patrulham a área próxima da praça principal e do palácio presidencial em Quito, no Equador. Foto: Rodrigo Buendia/AFP

Além disso, a dolarização e baixa bancarização no Equador atraem atividades ilícitas e lavagem de dinheiro. Essa aposta neoliberal do país nas últimas décadas foi apontada como a raiz da atual crise de segurança pela principal organização indígena do Equador, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie).

Em nota, a organização diz que a crise é resultado de um problema estrutural, “originado pela radicalização de políticas neoliberais que têm destruído o Estado e suas instituições, deixando-as sem capacidade de resposta”.

O diagnóstico é preciso. O Equador é um laboratório neoliberal, com um presidente sem controle da situação, privatista, e que agora decidiu tomar medidas de fechamento do regime para conter uma onda de criminalidade criada por ele mesmo e seu antecessor, o acusado de corrupção Guilheme Lasso.

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