#InternetLivre estreitou laços entre os radicais do bolsonarismo, diz pesquisadora da extrema direita

Atualizado em 29 de setembro de 2021 às 16:15
Michele Prado e o livro “Tempestade Ideológica”. Foto: Divulgação/Twitter

Michele Prado é pesquisadora da direita radical e conheceu o #InternetLivre, embora não tenha ligação direta com a academia. Ela votou em João Amoêdo, do Partido Novo, no primeiro turno das eleições de 2018 e votou em Jair Bolsonaro, por seu antipetismo, no segundo.

Ela é autora do livro “Tempestade Ideológica”, que está disponível para compra pela internet e concedeu entrevista ao DCM em 26 de abril de 2021.

Michele conversa novamente com o Diário sobre o grupo #InternetLivre, pré gabinete do ódio.

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“Era como uma torre de babel”

Confira a entrevista com a pesquisadora da extrema direita

Diário do Centro do Mundo: O que era o grupo #InternetLivre? Era um grupo de WhatsApp? Como ele funcionou na eleição de Bolsonaro?

Michele Prado: Era um grupo de WhatsApp criado pelo Luciano Ayan logo após a derrubada de várias páginas da direita nas redes sociais. Na época, na bolha da direita, era usual denunciarem que conservadores e liberais eram vítimas de perseguição do establishment, da imprensa e das plataformas. Afirmavam que seus perfis ou publicações eram constantemente bloqueados pelo Facebook, por exemplo. 

Quando houve uma derrubada, que hoje julgo correta, de várias páginas, Ayan criou esse grupo com vários influencers. Não participei desde o começo. Eu fui convidada tempos depois por uma mulher, Valéria Scher, que hoje é bolsonarista fanática. Quando entrei, logo percebi muitos comentários radicais, tive várias discussões e saí do grupo. Retornei em 2019, após Ayan me adicionar novamente. 

DCM: Quais figuras bolsonaristas que hoje estão no governo estavam lá?

MP: Leandro Ruschel, Rodrigo Constantino, Ana Paula Henkel, Flávio Morgenstern, Bia Kicis, Caio Copolla, Paulo Eduardo Martins, Flávio Gordon eram alguns nomes. Eram mais de 100 pessoas e a maioria radicalizou. 

Era um grupo de WhatsApp criado pelo Luciano Ayan”

DCM: MBL estava lá? Quais dos integrantes?

MP: Sim. Renan Santos estava e, na época, o Eric Balbinus também. Hoje ele já não faz parte do MBL.

DCM: Como funcionava a dinâmica de interações no grupo? Disparos eram realizados?

MP: Era como uma Torre de Babel. Muitas postagens diárias e quase todas pró-bolsonaro.  A dinâmica não era verticalizada. Alguém postava uma notícia, print ou ataque a algum jornalista e logo depois outros compartilhavam em suas redes a mesma notícia ou pontos de vista semelhantes na época das eleições de 2018.

As pautas da #InternetLivre

DCM: Havia uma unificação de pautas?

MP: De certa forma sim, pois a dinâmica nas redes e em especial quando formadas câmaras de eco levam a essa unificação de pautas.  Mas isso não era organizado. 

DCM: Em quais momentos decisivos da eleição o grupo se envolveu?

MP: Saí do grupo antes das eleições e só retornei em 2019. Me retirei novamente após discutir. Uma das coisas que me lembro bem era a justificativa de assédio online contra os críticos de Bolsonaro. Influenciadores desse grupo não apenas não se opunham a essa prática como até justificavam. Não defendiam nem mesmo amigos que estivessem sofrendo linchamentos virtuais dos bolsonaristas. Esse foi um dos vários motivos nos quais discuti com influencers que estavam lá. 

DCM: O grupo se dissolveu? 

MP: Grupo não se dissolveu. Ayan foi retirando os radicais e modificou o nome. Em 2019 quando ele me adicionou novamente o grupo já tinha outro nome.  E depois foram criados outros subgrupos a partir daquele, com as pessoas não bolsonaristas ou, no mínimo, que criticavam Bolsonaro

“o grupo não se dissolveu”

Internet Livre e o Gabinete de Ódio

DCM: #InternetLivre ajudou a formar o gabinete do ódio? 

MP: Não dá para afirmar que começou lá. O que podemos afirmar é que o grupo sem dúvida estreitou laços entre os radicais e que as dinâmicas nesses grupos mostravam que era possível fazer assédio online coordenado mas de maneira horizontal. Isso na prática torna mais difícil identificar uma hierarquia ou comando central. 

DCM: Quem estava lá que chegou nas redes bolsonaristas com Jair Bolsonaro no poder?

MP: Já havia saído do grupo quando ele assumiu. Retornei mas fiquei pouco tempo. Me retirei logo quando começaram as micaretas governistas que eu sempre fui contra e pontuava as suas nuances fascistas.  Com a Reforma da Previdência, no grupo se comentavam discursos para apoiá-la e eu fui contra alguns pontos, como o BPC e de novo tive novas discussões. Essas discussões acabavam em discursos misóginos. Foi assim que saí definitivamente do grupo. 

DCM: Informações sobre essas redes antes de Bolsonaro no poder estão em seu livro “Tempestade Ideológica”? 

MP: Há sim informações mas principalmente como funciona essa dinâmica de manipulação da opinião pública a partir das plataformas digitais.