Isolado na volta dos EUA, Carluxo teme prisão e investe contra maconha medicinal na Câmara

Se for preso, o Zero 2 terá o mesmo destino de ex-parlamentares cariocas identificados com o bolsonarismo

Atualizado em 8 de março de 2023 às 18:54
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) de volta à Câmara Municipal do Rio de Janeiro após temporada nos EUA com o pai

O Carlos Bolsonaro que se apresentou nesta terça, 7, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, após 68 dias refugiado nos Estados Unidos com o pai, nem de longe lembra o todo poderoso Zero 2 dos tempos em que Jair ocupava o cargo de mandatário número 1 do país.

Não apenas pela rotina, mas também pelo desprezo com que é recebido por parlamentares e servidores.

Carluxo, contrariando o comportamento adotado até o ano passado, trocou as escadas pelo elevador para acessar o 9o andar do edifício Pedro Ernesto, onde está localizado seu gabinete.

Lá se trancou e não saiu para almoçar.

Às 16 horas compareceu ao plenário para marcar presença na sua primeira sessão, após seis faltas consecutivas desde o reinício das atividades legislativas, em 15 de fevereiro.

Detalhe: desta vez, não ousou afrontar o regimento interno da Casa, como fazia na época em que o pai ocupava a presidência da República e ele, sem autorização, mantinha dois guarda-costas armados dentro do plenário.

Mordomia que agora faz parte do passado e que tem afastado até antigos aliados.

“Está isolado e não é estimado pelos servidores”, diz um antigo funcionário do parlamento carioca. “É visto como um zero à esquerda, alguém que desmerece a função parlamentar e, consequentemente, a Câmara”.

Carluxo é o único filho político do ex-capitão sem direito a foro privilegiado, desde que, em abril de 2021, o STF considerou ilegal uma brecha da Constituição do Rio que dava aos vereadores do estado o direito reservado apenas a presidentes, governadores, ministros, senadores, deputados federais e prefeitos.

O vereador do Republicanos é investigado pelo MP estadual por suspeita da prática da “rachadinha”, e pela Polícia Federal por acusação de participação em milícias digitais antidemocráticas em inquérito instaurado por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Bolsonaro sabe dos riscos que o filho sofre:

“Na hora em que descer, vão pegar ele”, teria dito, segundo aliados, referindo-se ao fato dos processos “descerem” para a justiça comum.

Capivara extensa

Se for de fato alvo de uma ordem de prisão, Carlos Bolsonaro vai seguir o mesmo destino de outros parlamentares identificados com o ideal bolsonarista que passaram pela Câmara do Rio e que, ou estão presos, ou foram assassinados.

O DCM fez uma pesquisa e constatou pelo menos seis casos nos últimos anos:

Gabriel Monteiro

O ex-vereador bolsonarista teve seu mandato cassado em agosto do ano passado, acusado de estupro contra uma jovem em uma boate da Barra da Tijuca e calúnia, difamação e injúria contra ex-assessores.

Ex-vereador e youtuber, Gabriel Monteiro. Foto: Reprodução

É acusado por ameaçar uma mulher com arma de fogo e obrigá-la a fazer sexo. O processo corre em segredo de Justiça.

Dr Gilberto

Gilberto de Oliveira Lima, médico, ex-vereador pelo PTN, acabou preso numa operação do Ministério Público do Estado e da Polícia Civil acusado de pertencer a uma quadrilha que cobrava propina para liberar corpos no Instituto Médico Legal (IML) de Campo Grande, periferia do Rio.

A quadrilha liderada pelo parlamentar, que chefiava a instituição, usava até funcionários da limpeza do IML.

Fausto Loureiro Alves 

O parlamentar foi acusado do assassinato do ex-cabo eleitoral Marcelo Siqueira Lopes, em julho de 2010, passou um tempo foragido e acabou preso.

Nadinho de Rio das Pedras

O ex-vereador Josinaldo Francisco da Cruz, vulgo Nadinho de Rio das Pedras, foi um dos 225 indiciados pela CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio e acabou assassinado com mais de dez tiros de calibres nove milímetros e de 45.

Flávio Bolsonaro, irmão de Carlos, foi o Senador mais votado em Rio das Pedras no ano em que o pai conquistou a presidência.

Jerominho

Ex-vereador do Rio Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho. Reprodução

O ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, conhecido como Jerominho, apontado, junto com o irmão, o ex-deputado Natalino Guimarães, como fundador da milícia que ficou conhecida como Liga da Justiça, também foi preso e, assim que deixou a cadeia, acabou assassinado numa emboscada na Zona Oeste da cidade.

Dr Jairinho

O médico e vereador Jairo de Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho, protagonizou um caso escabroso ao se envolver no assassinato do menino Henry Borel, à época com 4 anos de idade.

Dr. Jairinho

A mãe do garoto, Monique Medeiros de Almeida, ex-companheira de Jairinho, é corresponsável pelo crime, também está presa e responde por homicídio.

Cruzada contra a maconha medicinal

Na sessão desta terça, 7, a primeira que participou em 2023, Carlos Bolsonaro já contabilizou sua primeira vitória no ano: junto com seus pares de extrema-direita, conseguiu tirar da pauta de votação um projeto de lei que propõe a criação do Dia da Maconha Medicinal, em nova investida contra a ciência.

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