A jornalista Nathalí Macedo, do DCM, escreve sobre o secretário de Cultura, Mario Frias. E fala sobre sua fuga da entrevista, cumprindo papel de bolsonarista.
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Mario Frias foge
Seguindo o exemplo do presidente a quem serve, o Secretário de Cultura do Governo Bolsonaro não cansa de dar provas de sua completa desqualificação para o cargo que ocupa.
Após ser chamado de negacionista ao vivo na Rádio Gaúcha, Mario Frias abandonou a entrevista bradando: “Negacionista é a mãe!”
Fazendo nada mais do que o seu papel enquanto imprensa (supostamente) livre, o jornalista David Coimbra havia confrontado as declarações anti-vacina do secretário. “O senhor é um negacionista. A pandemia está voltando por causa de pessoas como o senhor”.
Mario Frias, tal qual um filhinho da mamãe que, mesmo na casa dos quarenta, não tem peito pra rebater críticas sem sair correndo, simplesmente abandonou a entrevista com um constrangido “se vocês quiserem, vocês vêm aqui e conversam comigo pessoalmente. Tchau, gente”.
Mais um papelão pra conta.
E já que nunca se dedicou a estudar administração pública (nem interpretação, nem ciência política, nem “O mínimo para não ser um idiota”, de Olavão, nem coisa nenhuma), o secretário certamente não está inteirado do conceito de negacionismo – acaso estivesse, saberia que poucos adjetivos se adequam tão bem a ele e ao governo que integra.
Questionar “qual é a garantia de que quem toma vacina não passa o vírus?”, como você fez na mesma entrevista da qual saiu acuado: isso é negacionismo, Secretário. (Dizem que perguntar não ofende, mas nesse caso ofende sim). Vetar a exigência de comprovante de vacinação contra COVID 19 em projetos financiados pela Lei Rouanet é negacionismo também – na verdade, me surpreende é que não tenham ainda vetado a própria Lei Rouanet, que tanto detestam. Se recusar a tomar vacina, mesmo sabendo que se trata de um pacto coletivo de saúde, é negacionismo. Questionar o uso de máscara e votar em Bolsonaro, também. (E aí, gabaritou?)
Não contente, Mario Frias chamou a exigência de comprovante de vacinação de “autoritária e discriminatória”. Imagina você integrar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), literalmente um congratulador de torturadores, e ter a pachorra de chamar qualquer coisa de “autoritária e discriminatória”?
Ele declarou não ter se vacinado porque teve um enfarte e tem receio. Nota: não há comprovação (ou mesmo boatos) de que a vacina contra COVID é contra-indicada pra quem já infartou.
É isso que acontece quando, no que parece ser o mundo invertido de Stranger Thinks, um ex-galã de malhação vira secretário de cultura e de repente pode tomar decisões que decidem o rumo de um país inteiro: eventualmente ele precisa fugir de entrevistas enquanto é massacrado e chamado de ignorante.
Porque você pode até, tendo a sorte (ou o infortúnio?) de ser o melhor que um presidente fascista e decadente pode conseguir para ocupar a secretaria de cultura, ter poder nas mãos por algum tempo e usá-lo da pior maneira possível. Mas você não pode, evidentemente, fazer isso sem nenhuma oposição, sobretudo se você for, a olhos vistos, negacionista e ignorante.
O enfrentamento ao negacionismo é (também) uma tarefa da imprensa, e David Coimbra, da rádio Gaúcha, fez muito bem o seu trabalho – ao contrário da assessoria de imprensa de Mario Frias, que não conferiu a tempo se o entrevistador era tão ignorante quanto o entrevistado – fica aí a dica pra evitar constrangimentos da próxima vez.
E uma coisa é mesmo fato: ninguém pode mais dizer que o currículo de Mario Frias é pobre. Além de Malhação e Os Mutantes, agora ele pode incluir “especialista em fugir de entrevistas, com ênfase no método Bolsonaro.” Lattes que eu tô passando.