“Volto ao Brasil quando Lula vencer”, diz Jean Wyllys ao DCM

Ele fala ainda sobre possibilidade de ser candidato em 2022

Atualizado em 24 de fevereiro de 2022 às 21:22
Jean Wyllys
Jean Wyllys. Foto: Divulgação

Doutorando em Ciência Política na Universidade de Barcelona, na Espanha, o ex-deputado Jean Wyllys (PT), que tem 47 anos, vive fora do Brasil desde a eleição de Jair Bolsonaro (PL) e a ascensão da extrema direita. Um dos assuntos que ele pesquisa são as fake news e as ameaças que o afetaram nas eleições de 2018.

Ele deixou seu mandato como deputado federal pelo PSOL e, em 2021, migrou para o PT. Militante das causas LGBTQI+, Jean entrou na legenda em um evento com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera a corrida eleitoral de 2022.

Na última semana, o MBL elencou inúmeros nomes dos “canceladores” da esquerda que criticaram om deputado Kim Kataguiri (Podemos) por concordar com a defesa da existência de um partido nazista dita pelo youtuber Monark.

O movimento que provocou o golpe parlamentar contra a ex-presidente Dilma Rousseff anunciou que processará 17 indivíduos por postagens nas redes sociais. Uma delas é o ex-deputado Jean Wyllys. Ele respondeu nas redes: “Vamos, MBL. Sobrevivi à violência que vocês me infligiram. Estou inteiro. E não é seu assédio jurídico nem lawfare que não me impedir de dizer que quem defende a existência de partido nazista É NAZISTA! Deputado que diz que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo é nazista”.

O Diário do Centro do Mundo procurou Jean Wyllys para uma conversa sobre o papel do Movimento Brasil Livre (MBL) na extrema direita, o que ele pesquisa sobre as fake news e o processo turbulento das eleições de 2022.

DCM: Você estuda e foi vítima das fake news do Bolsonaro. Vocês espera que as mentiras piorem nas eleições de 2022?

Jean Wyllys: Sim, vão. Já estão piorando. Está cada vez mais claro de que as novas tecnologias da comunicação e da informação operam no sentido de manter e reafirmar velhas desigualdades e hierarquias baseadas nas diferenças de classe social, étnicas, de identidade de gênero, orientação sexual e procedência.

Em outras palavras, o rápido avanço tecnológico que o mundo conheceu nos últimos 30 anos não serviram à verdadeira emancipação do indivíduo nem ao aprofundamento da democracia como se esperava quando do advento da internet comercial.

A cultura digital desenvolvida desde então não apenas espelhou o racismo, o sexismo, a intolerância religiosa e a homofobia que já vigoravam nas sociedades patriarcais ou da dominação masculina, mesmo naquelas que experimentaram um capitalismo social-democrata, como aprofundaram esses males na medida em que as plataformas de mídias identificaram que eles eram mais “produtivos” em termos engajamento e, logo, em termos de receita publicitária e lucros obscenos. Nessas águas, a extrema direita nada de braçada.

Nesse sentido, não é de surpreender que as principais vítimas de fake news, desinformação e assassinato de reputação, no Brasil, tenham sido, em ordem crescente, a esquerda em geral, artistas de esquerda ou progressistas, o PT, o PSOL, Haddad, Boulos, Érica Kokay, Dilma, Maria do Rosário, Manuela D’Ávila, Lula e eu.

Só depois dessas vítimas preferencias, e como consequência do descaso das instituições democráticas em relação a elas, é que atores políticos como jornalistas da imprensa comercial, Felipe Neto e ministros do STF se tornaram alvo.

É desse ambiente que as plataformas digitais extraem o minério com que enriquecem e, nesta extração e em razão dela, acabam por favorecer (conscientemente ou não) a políticos populistas, reacionários e mentirosos como os Bolsonaro, os parlamentares do PSL, os membros do MBL e outros políticos de extrema direita.

Bom, amor que geramos também se deve isto, porém a amor não gera engajamento digital nem dá lucro financeiro. Com muito esforço – como este que estamos fazendo agora em torno de Lula – gera lucro político. Mesmo assim, precisamos estar atentos até as eleições.

Há em curso novas “tecnologias digitais da fraude e da manipulação”. Eu assim as designo. Como “deepfake”, “shallowfake” e “cheapfake”, que produzem falas e vídeos absolutamente fraudulentos mas que parecem verdadeiros.

Fora o assédio por parte de bots, algo a que as campanhas digitais de Moro e de Ciro também estão recorrendo. No caso da campanha de Ciro, eu lamento muito, porque Ciro tinha ou tem história para fazer uma campanha na internet que não seja um culto masculinista e antipetista como já são as de Moro e Bolsonaro.

DCM: Você criticou o MBL no episódio no Flow Podcast. Em que grau eles estão alinhados ao bolsonarismo?

Jean Wyllys: Bom, acho que já respondi de certa forma esta questão. O MBL é parte da extrema direita. Seus métodos são fascistas. Mentirosos e caluniadores que se especializaram em como fabricar inimigos nas redes sociais por meio da calúnia.

São anti-democratas que se impuserem na esfera pública por meio do assédio a petistas e outras lideranças de esquerda; e que, por isto, mesmo encontraram abrigo e apoio nos meios de comunicação de massa hegemônicos.

Aliás, segue nebuloso o financiamento do MBL. De onde essa gente tirou grana pra fazer o que fez com q democracia brasileira? Antes de os analfabetos políticos com nomes exdrúxulas terem mandato, quem bancava sua propaganda e ações fascistas?

Não haveria bolsonarismo sem MBL e sem Lava Jato. Eles tentam se distinguir agora que Moro é candidato, mas a verdade é que são ratos de um mesmo esgoto.

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Jean Wyllys na Live das 5 do DCM
Jean Wyllys na Live das 5 do DCM. Foto: Reprodução/YouTube

Jean Wyllys: “São ratos de um mesmo esgoto”

DCM: Você é pré-candidato a deputado pelo PT, após sua saída do PSOL. Como está sua candidatura?

Jean Wyllys: Ainda não há nada fechado em relação a isto. Se dependesse, se depender só de mim, de minha vontade, não sou candidato a nada. Estou contente com meu papel de intelectual público, escritor e artista visual.

Contribuir com o programa de governo de Lula nas áreas do conhecimento em que transito já me basta. Porém, também estou levando em conta os apelos do PT para renovar e qualificar mais o Parlamento, que atualmente abriga um rebotalho de vigaristas, mentirosos profissionais e mafiosos eleitos em 2018.

São apelos para criar uma base parlamentar que permita a Lula devolver ao mais pobres e à classe média direitos essenciais à dignidade humana que lhes foram retirados nesses quatros tenebrosos anos do governo de extrema-direita de Bolsonaro.

DCM: Seu retorno ao Brasil está condicionado à vitória de Lula nas eleições?

Jean Wyllys: Sim. Ou à de qualquer outro candidato que não seja os da extrema-direita: Bolsonaro e Moro. No meu mundo ideal, Lula vencerá as eleições no primeiro turno. Sendo menos idealista porém otimista, e se Ciro não tivesse optado pelo antipetismo mais caricato e baixo em sua campanha, o segundo turno seria entre Lula e ele.

E a gente poderia então discutir e decidir qual dos projetos é melhor para o Brasil. É óbvio que o de Lula é melhor, mas ao menos teríamos alguém inteligente debatendo com Lula. Eu espero e quero voltar.

Para isso, os criminosos terão que estar isolados por um cordão sanitário democrático tecido pelas instituições que antes se negaram a me proteger e sequer puderam levar os assassinos de Marielle Franco a pensarem duas vezes antes de cometer tal crime político, tamanha era sua certeza de impunidade.

Com a eleição vencida por Lula, aceita pelos derrotados, entre estes os militares golpistas e fascistas que integram o governo Bolsonaro, e reconhecida pela comunidade internacional, eu poderei voltar e exercer meu papel de intelectual público e artista sem medo.

DCM: Você ainda vê tevê brasileira daí? Assiste as novelas? Acompanha o BBB? Acha que esses programas contribuem para o debate político?

Jean Wyllys: Infelizmente não vejo. A GloboPlay não roda aqui. A última novela que acompanhei foi “Amor de mãe”, de minha amiga Manoela Dias e protagonizada por três atrizes que admiro e respeito: Regina Casé, Adriana Esteves e Thaís Araújo.

Queria muito acompanhar “Um lugar ao sol” por causa das personagens de Mariana Lima, Natália Lage, Andrea Beltrão e Andreia Horta. Sou fã delas; e sei que Lícia Manzo escreve muito bem. Mas não consigo.

BBB eu acompanho pelos comentários que meus amigos que assistem fazem. O programa é entretenimento televisivo que reflete questões políticas dependendo do “elenco”. Seu compromisso com a política é o mesmo que tem o futebol.

Quando um jogador negro é chamado de “macaco” pela torcida adversária, o futebol deixa de ser só entretenimento. Entende? Assim é com BBB e as novelas.

DCM: Tem algo que eu não perguntei que você gostaria de acrescentar?

Jean Wyllys: Não sei… (risos). Te informo que acabei de escrever um livro com Marcia Tiburi, que será lançado em maio no Brasil e logo depois em espanhol na Espanha e América Latina. E que em breve farei uma exposição dos meus trabalhos em artes visuais.

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