O eletrotécnico aposentado e militante do PT Francisco Emmanuel Soares dos Santos, de 65 anos, preso desde o dia 5 de novembro em Linhares (ES) após supostamente furar um bloqueio gopista, vem sendo alvo de uma campanha difamatória nas redes sociais por parte do policial que o deteve, o cabo Rodrigo Bonadiman.
Chico Linhares, como é conhecido, foi acusado de “tentativa de homicídio”, após derrubar dois cones que demarcavam um protesto bolsonarista que contesta a vitória de Lula. Mesmo não havendo nenhuma prova do crime, ele foi levado à delegacia da Polícia Civil do município, onde permanece detido.
Bonadiman, que concorreu a deputado federal pelo PL nas eleições deste ano, se declara “patriota e cristão” em seu perfil do Instagram, no qual exalta Bolsonaro e seus aliados. Um dos posts mostra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) pedindo voto para o PM, que também tem uma foto com o ex-capitão.
Após prender o aposentado, o policial se dedicou a atacá-lo nas redes sociais. Em uma publicação de um jornal local, ele respondeu alguns internautas que defenderam o militante.
“Eu não estou acreditando que pessoas desconsiderem a tentativa bárbara de atentar contra a vida de pessoas, dentre elas crianças, se preocupando mais com a interdição de um pequeno espaço utilizado para uma manifestação ordeira e pacífica”, afirma ele em um comentário.
Em resposta a um usuário que diz que o caso “não vai dar em nada”, o PM se vangloria de sua ação. “Foi preso, conduzido, autuado e encaminhado para o presídio”, declara.
Um dos comentários mais curtidos do post, que chama os manifestantes bolsonaristas de “gatos pingados” e diz que eles estavam “importunando a vizinhança”, revoltou o PM. “Que tipo de comentário. Meu Deus!”, respondeu. Os bolsonaristas haviam desrespeitado a determinação do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para desobstruir rodovias.
O cabo Bonadiman e seu parceiro são as únicas testemunhas do suposto crime. Segundo eles, Chico avançou com seu carro contra ao menos 20 pessoas. No entanto, apenas duas supostas vítimas fizeram um relato, mas não realizaram exame de corpo de delito. Também não há nenhuma filmagem comprovando o que os dois policiais alegam.
“A falta de provas impera nesse caso”, diz o advogado Renan Nogueira, ressaltando que “a única coisa que existe é a confirmação de que ele furou o bloqueio”. Ele destaca ainda que o juiz responsável pela decisão utilizou processos de 2005 sobre infrações de trânsito para argumentar que Francisco é reincidente.
“É muito complicado quando você está nas mãos de uma inteligência investigativa frágil, que não consegue mostrar evidências de que alguém cometeu um crime”, afirma Nogueira.
Amigo pessoal da filha de Chico Linhares, o advogado diz que ela e a mulher do aposentado estão “péssimas e muito receosas”, mas ainda têm “um nível de tranquilidade para transmitir as informações”.
“Ele vai ter as marcas desta prisão injusta para o resto da vida. É um senhor de 65 anos, que tem uma contribuição muito grande para a comunidade. Já foi líder de grupos de teatro em Linhares e desempenhou vários papéis sociais. É uma enorme lástima”.
Na quarta-feira (16), a defesa do militante entrou com um pedido de habeas corpus e agora aguarda a decisão do Juízo da 1ª Vara Criminal de Linhares.
“Se o caso for analisado tecnicamente e racionalmente, a expectativa é que ele seja liberado”, completa o advogado.