Conheça Gustavo Canalhão, o maior inimigo nas redes de Ciro Gomes e sua milícia digital

Atualizado em 21 de setembro de 2022 às 16:34
Ciro Gomes
Foto: Evaristo Sa/AFP

“Não imaginava passar por tamanha humilhação. Resolvi fazer algo para expor a hipocrisia dessa galera reacionária e odienta”, diz Gustavo Canalhão, personagem que se tornou o maior alvo da milicia cirista nas redes sociais.

O perfil nasceu após ataques e ameaças de pedetistas. Ele é uma “homenagem” a Gustavo Castañon, estrategista do presidenciável Ciro Gomes (PDT). O pseudônimo é utilizado por temor de violência política. “Eu nem pensava em criar o perfil. Entrei como um cidadão normal. Percebi que, com o passar do tempo, essa violência ia aumentar”, afirma.

Segundo Canalhão, os apoiadores de Ciro são piores e mais agressivos que os do presidente Jair Bolsonaro. “O ódio propagado pelos ciristas não é para tentar varrer a figura do maior líder político de esquerda no Brasil”, diz. “O Ciro é o principal líder, ele incentiva essa galera a pregar esse discurso odiento e covarde”.

Recentemente, a página foi denunciada pelo presidenciável ao TSE após a publicação de um ‘meme’ sobre o livro do pedetista. Na visão do dono do perfil, “fizeram isso como um pretexto para pegar meus dados. Há muito tempo eles estão querendo saber quem sou eu”. “Isso é desespero”, afirma.

Nesta entrevista, Canalhão fala sobre as ameaças, a infiltração neonazista no PDT e a estratégia de Ciro ao atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

DCM: Quem é Gustavo Canalhão e como ele virou o inimigo número 1 dos ciristas nas redes sociais?

Gustavo Canalhão: O perfil nasceu após eu, como cidadão normal, ser humilhado dentro de um Spaces [live de áudio no Twitter] cirista. Não imaginava passar por tamanha humilhação. Essas pessoas que me atacaram foram alunos e seguidores do Gustavo Castanõn. Inclusive, eles têm o Gustavo como mentor deles. Eu resolvi, então, fazer algo para expor a hipocrisia dessa galera reacionária e odienta.

Quem são esses reacionários? 

O principal cara que agiu com agressividade, que é um ‘fãzão’ do Castanõn, foi o militante Samuelson Xavier. Ele é conselheiro de cultura e igualdade racial de Fortaleza. Foi através dele que surgiu a iniciativa de criar o perfil.

Depois do Samuelson vieram vários. O Frederico Krepe, aluno de Gustavo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJFs), também agiu com muita violência e agressividade.

A ideia inicial não era ter um perfil com um pseudônimo? 

Quando eu me expus no primeiro Spaces e me trataram de uma forma jocosa, eu nem pensava em criar o perfil Gustavo Canalhão. Entrei como um cidadão normal. Após essa agressividade, eu percebi que, com o passar do tempo, essa violência ia aumentar. E, realmente, de fato, aumentou, de uma forma bem além daquilo que eu imaginava.

Qual estratégia que usam para fazer os ataques?

Castanõn espalha que Lula perdeu a voz, que perdeu o cabelo, que está perdendo a razão. Ou seja, eles estão atacando e desumanizando as pessoas. Nem o Bolsonarismo chegou nesse ponto. Os ciristas partiram para o lado humano, dizem que o Lula está fraco e morrendo. Isso é muito perigoso. Minha intenção é expor isso. Em breve, vamos dar um basta, mas essa violência não vai morrer. Vai continuar, porém com menor intensidade. Esse grupo vai continuar nos esgotos, se manifestando com as garrinhas deles.

De onde nasceu tanto ódio? 

O alvo principal dos ciristas é o Lula. Esse ódio nasceu em 2018. Ciro queria o apoio de Lula, que o convidou para ser vice-presidente na época. Se o petista não conseguisse ter a candidatura aprovada, o pedetista daria continuidade, mas ele não quis isso. Aquilo foi o fim de tudo. A partir dali, começou toda uma campanha de ódio. Ciro começou a destilar, foi para Paris e, quando voltou, começou a disparar contra o petista.

No início do governo Bolsonaro, Ciro fazia muitos elogios ao presidente, dizendo que ele não era uma ameaça, e concentrava todos seus ataques ao Lula. Nesse momento, ele começou a insuflar militância e conseguiu montar uma base reacionária dentro do PDT, fazendo que os ataques ganhassem força. O bolsonarismo cresceu dessa forma, alimentando o anti-petismo. Ciro embarcou nessa para que ele pudesse ter ganhos políticos, mas não conseguiu. Esse papel só cabe a uma pessoa no Brasil: Jair Bolsonaro.

Ciro quis duelar com Bolsonaro, que pode roubar, matar, mas que não perderá o apoio de seguidores. O pedetista perdeu nesse jogo. O que restou foi reforçar esse discurso de ódio. Hoje, eles não estão almejando ganhar em 2022, já sabem que perderam, o objetivo é 2026. Acham que, com Bolsonaro perdendo as eleições, ele corre um grande risco de ser preso. Ciro alimenta o ódio, justamente, para poder atrair e tomar essa posição hoje que é do chefe do Executivo. Ele quer abraçar os que ficarão órfãos após a passada do presidente.

Não existe diálogo com Ciro? 

Não existe conversa. Não existe diálogo. Não existe a mínima possibilidade de o Ciro sentar-se numa mesa para conversar com Lula. Nas últimas entrevistas, ele fez fortíssimas agressões contra o petista. Inclusive, ele diz que o Lula, na época do seu governo, aparelhou o STF para proteger os filhos, igual o Bolsonaro fez, coisa que nunca existiu. A família do Lula já está muito revoltada com o Ciro, com as acusações que ele vem fazendo. O ex-presidente nunca vai partir para cima do pedetista, que vai concentrar ainda mais ataques.

Apoiadores de Ciro podem ser comparados aos de Bolsonaro? 

Eu considero um pouco pior. O bolsonarimo ataca o PT em defesa do Bolsonaro. O ódio propagado pelos ciristas não é pra defender Ciro, mas sim para tentar varrer a figura do maior líder político de esquerda no Brasil. Eles não se conformam com isso. Existem grupos neonazistas dentro do PDT que têm como foco principal destruir a imagem do Lula. O Ciro é o principal líder, ele incentiva essa galera a pregar esse discurso odiento e covarde.

Além disso, há um alinhamento entre a campanha do Bolsonaro e Ciro, que é a maior linha auxiliar do presidente. Bolsonaro teme que o pedetista possa desistir da candidatura. Ele está preocupado com a falta de crescimento de Ciro nas pesquisas. Sem o pedetista no páreo, Lula ganha no primeiro turno com folga, mas ele não vai abrir mão e dar esse gostinho.

Ciro mentiu ao dizer que não sabia sobre a existência de grupos neofascistas no PDT?

É só um ‘migué’. Ele sabe de tudo. Os próprios militantes da Nova Resistência, grupo formado por uma ideologia da quarta teoria política, de Alexandre Duguin, acharam que o Ciro foi desonesto ao falar que não sabia desse movimento no partido. Ele tentou enganar o povo, mas todo mundo sabe disso.

Quem são os membros desse grupo?

Nesse grupo, existem pessoas que são membros oficiais e os paralelos, que não estão registrados, mas que propagam o mesmo discurso. Gustavo Castanõn é um cara muito referenciado dentro da Nova Resistência. O ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo usa o mesmo discurso, inclusive, faz lives com pessoas desse movimento. Existe também um movimento chamado Sol da Pátria, que funciona da mesma forma, são dissidentes da Nova Resistência.

O pastor Cláudio Moreira, que disse que vai lutar com todas as forças pra fazer Lula perder, é presidente nacional dos Cristãos Trabalhistas do PDT, e também uma linha auxiliar desse movimento reacionário. Existem muitos outros que estão do lado de fora do grupo, mas que ajudam a propagar seus ideais, pois não querem vincular o nome deles ao Nova Resistência por medo de prejudicar suas imagens.

O que vai acontecer com o PDT após as eleições?

Vai haver um racha muito grande. O PDT vai ter uma das maiores percas e uma das maiores decepções de toda história do partido. Tem muita gente que não saiu do PDT acreditando que o Ciro iria maneirar o discurso. O próprio Lupi falava que o PT não era inimigo, que haveria a possibilidade de conversar com Lula. Ele queria evitar uma debandada na legenda. Depois que passou a janela partidária, todo mundo ficou preso, sem poder sair do partido. No entanto, essas pessoas que queriam sair do partido agora estão fazendo suas campanhas sem associar ao nome do Ciro, que é um desagregador para qualquer um.

O que mantém Ciro no partido? 

No PDT, criou-se uma linha nacionalista muito forte. Existem boatos sobre dinheiro envolvido, inclusive por parte de partidos do Centrão. O Ciro, no entanto, permanece porque ele é o vice-presidente nacional do partido. O Lupi é o presidente nacional do PDT. Ambos dominam a sigla com mão de ferro. Se dependesse da executiva, o Ciro nem candidato seria, mas quem manda no partido são os dois.

O Lupi ainda foi coagido pelo Ciro. Entrou um grupo muito forte no PDT, que está criando uma espécie de “esquerda conservadora”. Quem fundamentou isso no partido são pessoas extremamente nacionalistas e conservadoras, como Aldo Rebelo, o ex-deputado federal Cabo Daciolo e comandante Robinson Farinazzo, da reserva da Marinha. O grande cérebro desse movimento é o Gustavo Castanõn.

Com a vitória do Lula, eles vão tirar essa máscara de que ainda são um partido de esquerda progressista. Vão assumir esse lado patriótico para tentar roubar as bandeiras de Bolsonaro. Vão surgir movimentos radicais que vão tentar criar uma polarização para atrapalhar o desenvolvimento do Brasil. O PDT vai estar alinhado com a extrema-direita e vai se tornar um dos grandes oposicionistas do governo Lula.

Como pretende manter o perfil em atividade em meio às ameaças?

Vou continuar na ativa. Não vou parar. Estou estudando todos os movimentos, inclusive tem pessoas que estão dentro do partido PDT que trazem informações de coisas que acontecem. Muitas pessoas estão querendo contribuir, mas eu não faço isso por dinheiro. Eu não ganho um centavo. Eu faço tudo isso nos momentos livres que eu tenho em casa. Eu não tenho o mínimo interesse que o meu perfil seja para benefício próprio.

Estou recebendo muitas ameaças e denúncias, mas não recuarei independente de qualquer processo. O Ciro me processou por causa de um vídeo, devido a proporção da repercussão. Um vídeo tão simples, de uma comparação sobre o livro dele. Foi uma postagem que eu fiz, que não tem fake news, que não tem inverdades, simplesmente fiz duas comparações. Não existe maldade nenhuma. Era como se fosse um meme. Ele levou isso como uma ofensa. O PDT entrou com um processo como se eu estivesse atacando a honra do Ciro, coisa que não existiu. Isso é desespero.

Há muito tempo eles estão querendo saber quem sou eu. Entraram com um processo para remoção do vídeo, mas na mesma petição, eles pedem que o Twitter seja notificado e informe todos os meus dados pessoais, para saberem quem é o proprietário da conta. O motivo do processo foi unicamente para tentar me identificar para poder me expor. Não sei como vai ser, estou aguardando para ver qual posição vou tomar.

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