Fascismo está na raiz do bolsonarismo, diz historiador que estuda a extrema direita

Atualizado em 12 de outubro de 2021 às 18:53
Veja o Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução

Fascismo está na raiz do bolsonarismo. Essa é a avaliação de Odilon Caldeira Neto sobre o movimento de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Leia, abaixo, o que mais o historiador disse a Paulo Motoryn, do Brasil de Fato:

A eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) representou o triunfo de uma série de grupos tradicionais da extrema direita brasileira.

A constatação é de Odilon Caldeira Neto, professor de História Contemporânea na Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos coordenadores do Observatório da Extrema Direita Brasileira (OEDBrasil), grupo que reúne pesquisadores do tema.

De acordo com Caldeira Neto, não é possível separar o bolsonarismo da tradição de movimentos históricos, com décadas de organização no Brasil, como o integralismo.

“Muitas vezes, nós reduzimos o bolsonarismo a uma forma de adoção e adaptação de uma agenda política global. Isso incorre no erro de neutralizar a existência de uma história da extrema direita no Brasil”, afirmou, em entrevista.

“O Brasil foi palco da principal organização de tipo fascista fora do continente europeu. Isso não é pouca coisa. Essa mesma organização, a Ação Integralista Brasileira, foi também a primeira organização política de massa na história política brasileira. Depois, a gente tem experiências políticas, governos autoritários e ditaduras que são inspiradas ideologicamente nessas tradições de ideias e de práticas da extrema direita brasileira”, disse.

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Segundo ele, também é preciso apontar as diferenças conceituais entre o bolsonarismo e a atual gestão do Palácio do Planalto.

“O governo Bolsonaro é uma instância mais institucional de representação, um governo como tal. O bolsonarismo é aquela célula mais pulsante que busca sempre uma ativação da radicalização, que buscar a intervenção militar, que busca a “ucranização”, que busca o tal do voto impresso auditado e outras questões, inclusive em torno do próprio contexto de pandemia da covid-19.”

“É claro que Bolsonaro não quer idealizar um governo ou um Estado de tipo fascista como foi o Estado de tipo fascista na primeira metade do século 20, mas as ideias do fascismo, a ideia de repaginação, regeneração e purificação da nação brasileira e da extirpação e da perseguição dos seus opositores políticos, não são novas no Brasil. São questões que não são importações do bolsonarismo da agenda do Trump, são questões que estão presentes um certo imaginário político da extrema direita brasileira ao longo do tempo.”

Caldeira Neto ganhou notoriedade, principalmente, a partir da publicação do livro “O Fascismo em Camisas Verdes: do integralismo ao neointegralismo”, escrito em parceria com seu colega na UFJF, Leandro Pereira Gonçalves, e publicado em 2020.

Durante a entrevista, o historiador apontou que o livro, além de uma versão em inglês, pode ter uma atualização ou render uma segunda obra.

“A tragédia da extrema direita brasileira nos parece que ainda não está muito simples de resolver”, brincou.

Leia a íntegra da entrevista no Brasil de Fato.