Veja o carro e outras coisas que ligam Pazuello a Cascavel, tido como o ministro de fato da Saúde. Por Zambarda

Cascavel conecta pontas do escândalo da Covaxin passa pelo ex-ministro e chega até parlamentares da República

Atualizado em 9 de fevereiro de 2022 às 11:55
Airton Antonio Soligo, conhecido como Cascavel, e o ex-ministro Pazuello. Foto: Secom/Divulgação/Agência Brasil

Airton Antonio Soligo, conhecido como Cascavel, é um nome que conecta pontas improváveis no escândalo da Covaxin, no caos de Manaus na pandemia do novo coronavírus, passa pelo ex-ministro Eduardo Pazuello e chega até parlamentares da República. 

Ele tem 57 anos. Nasceu em 4 de maio de 1964, ano do golpe militar.

Seu apelido, Cascavel, provoca medo e intimidação em quem conhece as histórias no norte do Brasil – além das acusações de grilagem e nepotismo.

O nome de Airton Soligo ainda não foi mencionado na CPI da Covid. Uma reportagem do jornal Valor Econômico, de maio de 2021, especula que a comissão pode avançar no braço direito de Pazuello, além do coronel Elcio Franco que já foi convocado.

O DCM está conversando com diferentes fontes que aprofundam ainda mais a teia de relações que mostram a condução desastrosa do governo Bolsonaro na pandemia. E muitas dessas pessoas explicam que Cascavel é um elo importante no caos.

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Acusado de corrupção ativa, eminência parda e “ministro de fato”

A primeira reportagem de fôlego a conectar Cascavel com Pazuello foi publicada no dia 7 de de janeiro de 2021 pelo jornalista Lúcio de Castro no site Sportlight. “A teia do general” mostra o “homem forte” do ex-ministro da Saúde denunciado por tentativa de desvio de, acredite se quiser, vacinação.

A ficha corrida de Airton Soligo é longa.

Em 1989, quando era prefeito de Mucajaí, em Roraima, Cascavel foi acusado de corrupção ativa por subornar o delegado da agricultura de Roraima envolvido na campanha de vacinação da febre aftosa no interior do estado, como está na denúncia do MPF-RR. A denúncia consta no inquérito de número 1.067 no Ministério Público daquele estado.

Cascavel renunciou do cargo de prefeito em 1990 e depois se tornou deputado estadual e continuou sua carreira política, mesmo com as acusações e as mudanças de foro relacionadas ao processo. Foi vice-governador em 1995 e tornou-se deputado federal em 1998.

Ainda segundo o site Sportlight, Airton Soligo Cascavel aparece em acusações de grilagem de 2012, identificadas pelo MP, com Rodrigo Jucá, filho do ex-senador Romero Jucá – do “com Supremo, com tudo” no golpe parlamentar de 2016.

No início de junho de 2020, a bancada do PT encaminhou o “requerimento de informação nº 713”, no qual, entre sete questionamentos, diz existirem informações de que “o sr.  Airton  Soligo  teria,  inclusive, ramal  telefônico  nas  dependências  do Ministério  da  Saúde”.

Os parlamentares questionam: “onde  ele  está  alocado?  O  Sr.  Airton  Soligo  possui  acesso  aos  sistemas  do Ministério  da  Saúde,  com  login  e  senha?  Se  sim,  de  quais  sistemas?  De  quem  partiu  a  ordem de autorização de acesso a uma pessoa que não é servidor ou possui relação com o ministério?”. As perguntas intensificam a pressão em Airton Soligo Cascavel, que é nomeado na pasta.

No dia 24 de junho, Cascavel ganhou o cargo de “assessor especial”,  com código DAS-102/5 publicado no Diário Oficial da União (DOU). Em 14 de dezembro de 2020, Airton Soligo foi o representante de Pazuello e Bolsonaro para falar sobre a compra da Coronavac junto ao governo Doria.

O político e empresário Cascavel, com Paulo Guedes: o principal assessor de Pazuello e “ministro de fato” –
Airton Cascavel durante anúncio do acordo firmado com a Pfizer Marcelo Camargo/Agência Brasil

Airton Cascavel foi pessoalmente conversar com o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, reduzindo a temperatura dos constantes atritos entre Doria e Bolsonaro.

Uma reportagem de Eduardo Gonçalves na revista Veja em 19 de março de 2021 aponta Cascavel não como braço direito de Pazuello no Ministério da Saúde e sim como “ministro de fato”.

“Na opinião da maioria dos gestores estaduais e municipais, Cascavel era o ‘ministro de fato’ da pasta. Da estrita confiança de Pazuello, era Cascavel quem ‘desenrolava’ a maior parte das pendências burocráticas e demandas logísticas com os estados e municípios, como entrega de respiradores, lotes de vacina, equipamentos para leitos de UTI, negociações com laboratórios etc”, diz o texto da Veja. 

Cascavel era, portanto, um “faz-tudo” de Pazuello na gestão desastrada da Saúde e na crise da covid e da falta de oxigênio em Manaus.

Em 23 de março de 2021, Pazuello foi exonerado do cargo de ministro e assumiu o médico cardiologista Marcelo Queiroga. Ele tirou o homem de Eduardo Pazuello do governo.

Mas Cascavel não ficou sem emprego. O governo do bolsonarista Antonio Denarium, de Roraima, nomeou Airton Soligo como secretário de Saúde do estado.

Fontes deram mais detalhes ao DCM de como Cascavel atuou e como é um desperdício a CPI da Covid ainda não ter convocado o homem que foi deputado, prefeito, vice-governador, empresário “de sucesso” em Roraima e que atua nas sombras.

A amizade entre Cascavel e o falecido dono da afiliada do SBT

Airton Soligo, o Cascavel, tem trânsito forte nos bastidores da política do Amazonas e de Roraima. E essas amizades passam pelos meios de comunicação. Um de seus amigos era o empresário Otávio Raman Neves.

Otávio era o proprietário da TV Norte Amazonas, afiliada do SBT, e faleceu de covid no dia 6 de julho de 2021. Estava intubado e não sobreviveu aos procedimentos no hospital.

Uma reportagem do DCM, dois dias antes, apontou uma conexão entre a afiliada do SBT e, acredite se quiser, a Precisa Medicamentos. 

Gustavo Oliveira, representante da Precisa, é genro de Daniel Abravanel. Ele é casado com Priscila Abravanel. Daniel é um sobrinho de Senor Abravanel, Silvio Santos, o dono do SBT. Trabalha com as afiliadas da emissora e é filho de Henrique Abravanel, o irmão caçula de Silvio.

Gustavo Oliveira e Daniel Abravanel. Foto: Reprodução/Instagram/YouTube

Gustavo é próximo também de Danilo Berndt Trento, chamado por nossas fontes de “sócio oculto” da Precisa Medicamentos.

Por fim, nessa teia de relacionamentos perigosos, o falecido Otávio Raman, amigo de Cascavel, era próximo do senador Omar Aziz, o presidente da CPI da Covid. Ele falou sobre o “irmão-amigo” no dia de sua morte na CPI: Aziz manteve uma relação de 40 anos com Otávio.

Presidente da CPI, Omar Aziz
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O mesmo Omar Aziz que mandou prender o ex-secretário Roberto Dias, do Ministério da Saúde, no caso Davati, mas não fez nada com Pazuello, o ex-titular da pasta, ou nomes mais conectados no caso da Precisa Medicamentos.

Eduardo Pazuello, que era chefe de Cascavel.

Um carro que Pazuello usa na capital

Em Brasília, o ex-ministro Eduardo Pazuello trabalha como secretário de Estudos Estratégicos do governo Bolsonaro. E fontes do DCM enviaram uma informação relevante sobre ele hoje.

Pazuello circula pela capital usando um carro T-Cross, da Volkswagen, de placa REF5D36.

Quem é o proprietário do veículo? O empresário e hoje secretário de Roraima, Airton Antonio Soligo.

O Cascavel.

Carro de Pazuello em Brasília e as informações enviadas ao DCM. Foto: Reprodução

Os registros do carro batem com dados de Airton Cascavel divulgados pelo próprio Diário Oficial de Roraima. O site Metrópoles divulgou em 13 de julho que o automóvel de Pazuello não é dele, baseado em dados do Detran-DF. O DCM obteve as informações sobre o proprietário do automóvel de suas fontes.

Dados de Cascavel no Diário Oficial de Roraima. Foto: Reprodução
Outro lado

O Diário do Centro do Mundo entrou em contato com o Itamaraty, a Polícia Federal e o próprio Ministério da Saúde solicitando documentos e informações sobre os personagens mencionados nesta reportagem para trazer ainda mais informações sobre eles.

Nenhuma das entidades ainda respondeu. O espaço está aberto para manifestações das autoridades.

A CPI da Covid também não tem previsão de ouvir Cascavel. Francisco Maximiliano e Danilo Berndt Trento devem ser ouvidos a partir de agosto.

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