Do jornalista e tradutor Reinaldo José Lopes na Folha de S.Paulo.
Já faz alguns anos que a distopia pós-apocalíptica —ou seja, a ideia de que o futuro será forjado por catástrofes planetárias que transformarão a Terra numa espécie de inferno— virou uma das formas dominantes de narrativa.
O britânico George Orwell, morto há 70 anos, em janeiro de 1950, ajudou a definir a estrutura do gênero com seus romances “1984” e “A Revolução dos Bichos”, mas é significativo que ele tenha preferido entender esses livros como utopias, e não como distopias.
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Não à toa, os volumes de Atwood acompanham os de Orwell nas listas recentes de mais vendidos —o que fez a Companhia das Letras, no Brasil, preparar uma série de lançamentos para este ano, caso de uma HQ de “1984” feita por Fido Nesti, uma nova edição de “A Revolução dos Bichos” e as obras “O Ministério da Verdade: Uma Biografia de 1984” e “Orwell e a Verdade”.
De um lado, dizer que Orwell foi profético ao escrever seu maior romance equivale a reiterar uma obviedade; de outro, para a sorte de todos nós, não faz muito sentido.
A raiz desse paradoxo é que, embora não tenham faltado regimes cuja intenção era reescrever o passado e transformar seus cidadãos em servos, nenhuma dessas tentativas pareceu ser capaz de durar mais do que poucas décadas.
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