Pedro Cardoso: “Para fazer oposição a Jair, devemos nos opor a ideia messiânica”

Pedro Cardoso. Foto: Reprodução/Instagram

Do Instagram do ator Pedro Cardoso, ex-Globo:

Bom dia.

Eu tive um pai que gostava de mim e em quem eu confiava intelectualmente. Muitas vezes, meu pai me socorreu e me orientou com sabedoria. Falo aqui coisa íntima só para compartilhar movimento psicológico que acredito ser de todos. O bom pai que tive criou em mim o anseio por figuras salvadoras. Toda pessoa que se oferecesse para me salvar, despertava o meu afeto. Acredito que com toda gente é assim.

Desejamos o pai da criança q fomos. Problema é que um desses pais desejados pode se apresentar na figura de um líder político. Nenhuma vida se resolve sozinha; vivemos em sociedade. O líder salvador se oferece a fazer pelo coletivo o mesmo que o pai faz pelo indivíduo; daí se dizer de alguns “pai do povo”. A esperança por um salvador da pátria tem raiz no amor pelo nosso pai primeiro, por isso é tão poderosa. Mas é falsa. O que meu pai me ensinou toda vez que eu o pedi ajuda é que eu devia me fazer capaz de ser livre e assim poder ajudar-me eu a mim mesmo sem depender dele. Meu pai me ensinou a ser um adulto. Por isso não espero por um salvador da pátria. O que faz tantos de nós cegos diante da mentira de qualquer dos autoproclamados líderes é a dependência afetiva da figura do pai salvador. Um adulto que não se libertou do pai é presa fácil da ilusão messiânica. Jesus tinha assunto permanente com o pai dele. Entregou a vida nas mãos do pai, diz a teologia.

Moises abriu o mar para salvar a sua gente, diz a lenda. Os russos mantem Lenin dormindo como uma Bela Adormecida. A China ainda reza para Mao. Fidel, Hugo, Lula… Todo o panteão de presidentes americanos divinizados… E reis e revolucionários adorados. Pessoas de grande capacidade, sem dúvida; mas tb prisioneiros do poder.

Não há salvador da pátria! Deseja-lo é o que nos faz vulneráveis às falsificações de messias como esse Messias hiper-fálico que nos chegou.

Para fazer oposição a Jair devemos nos opor a ideia messiânica. Oferecer outro messias para o lugar dele apenas o fará mais desejado por quem precisa ainda de um pai protetor.

O inimigo do líder fascista não é outro líder. É nenhum líder.

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Bom dia. Eu tive um pai que gostava de mim e em quem eu confiava intelectualmente. Muitas vezes, meu pai me socorreu e me orientou com sabedoria. Falo aqui coisa íntima só para compartilhar movimento psicológico que acredito ser de todos. O bom pai que tive criou em mim o anseio por figuras salvadoras. Toda pessoa que se oferecesse para me salvar, despertava o meu afeto. Acredito que com toda gente é assim. Desejamos o pai da criança q fomos. Problema é que um desses pais desejados pode se apresentar na figura de um líder político. Nenhuma vida se resolve sozinha; vivemos em sociedade. O líder salvador se oferece a fazer pelo coletivo o mesmo que o pai faz pelo indivíduo; daí se dizer de alguns “pai do povo”. A esperança por um salvador da pátria tem raiz no amor pelo nosso pai primeiro, por isso é tão poderosa. Mas é falsa. O que meu pai me ensinou toda vez que eu o pedi ajuda é que eu devia me fazer capaz de ser livre e assim poder ajudar-me eu a mim mesmo sem depender dele. Meu pai me ensinou a ser um adulto. Por isso não espero por um salvador da pátria. O que faz tantos de nós cegos diante da mentira de qualquer dos autoproclamados líderes é a dependência afetiva da figura do pai salvador. Um adulto que não se libertou do pai é presa fácil da ilusão messiânica. Jesus tinha assunto permanente com o pai dele. Entregou a vida nas mãos do pai, diz a teologia. Moises abriu o mar para salvar a sua gente, diz a lenda. Os russos mantem Lenin dormindo como uma Bela Adormecida. A China ainda reza para Mao. Fidel, Hugo, Lula… Todo o panteão de presidentes americanos divinizados… E reis e revolucionários adorados. Pessoas de grande capacidade, sem dúvida; mas tb prisioneiros do poder. Não há salvador da pátria! Deseja-lo é o que nos faz vulneráveis às falsificações de messias como esse Messias hiper-fálico que nos chegou. Para fazer oposição a Jair devemos nos opor a ideia messiânica. Oferecer outro messias para o lugar dele apenas o fará mais desejado por quem precisa ainda de um pai protetor. O inimigo do líder fascista não é outro líder. É nenhum líder.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: pedrozambarda@gmail.com

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