“Artistas incomodam governos que não têm compromisso com a democracia”, afirma responsável pelo humor da Globo

Desde setembro do ano passado, Marcius Melhem, é responsável pelos projetos de humor da TV Globo. Em entrevista concedida à jornalista, Luiza Barros, no Globo, ele fala sobre projetos futuros e sua visão sobre o papel do humor na sociedade.

Sobre o novo quadro do Fantástico:

O “Isso a Globo não mostra”, por exemplo, foi uma tentativa ousada de tentar fazer um produto que ressignifica muito do que é exibido, sem que ninguém te explique.

Mas te preocupa que parte do público não entenda?

Essa preocupação existe, mas o público entende qualquer código, desde que o código esteja claro. Se ele entende que no “Isso a Globo não mostra” tudo pode ser verdade ou pode ser mentira, está tudo bem. Lá a gente brinca com as fake news.

Por exemplo, fizemos agora um quadro como se o Jair Bolsonaro tivesse perguntado o que é golden shower para a Laura Müller no “Altas horas”. O Serginho (Groismann, apresentador do programa) é meu amigo e me mandou um áudio por Whatsapp para dublarmos por cima. Aquilo foi ao ar assim e muita gente acha que isso realmente aconteceu no “Altas horas”.

É claramente uma brincadeira nossa, de um programa profissional. Mas é importante que as pessoas despertem para pensar: “Será que é isso mesmo?”. Então, com o público, estamos tentando subir a barra.

Nos Estados Unidos, é comum ver políticos participando de programas de humor. Isso poderia acontecer aqui?

Seria lindo se os políticos brasileiros tivessem esse jogo de cintura, de se deixar sacanear. São muitos poucos os que topariam isso. Hoje em dia eles tentam tanto controlar a narrativa sobre eles mesmos que é quase impossível. Exige uma grandeza que a nossa classe politica não tem.

Em parte da sociedade, há um clima crescente de animosidade contra a classe artística. Para você, o que explica esse fenômeno?

Os artistas são livres por natureza, e isso incomoda. Especialmente em governos que não têm muito compromisso com a democracia e que adorariam que houvesse um pensamento único no país, a liberdade de pensar e de criar incomoda muito. A animosidade vem daí.

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