Bethânia fala sobre o Brasil de Bolsonaro em turnê: “Estou triste”

Maria Bethânia em show ‘Claros Breus’
Foto: Divulgação

A jornalista Adriana Del Ré entrevistou Maria Bethânia no Estado de S.Paulo.

(…)

Você fez um disco para a Mangueira. Imagino que seja um presente pela homenagem que eles fizeram a você no carnaval.

É um agradecimento pela homenagem que eles me prestaram. Canto canções que falam da Mangueira. 37 sambas concorreram no ano em que eu fui enredo, uma coisa que não acontecia há muito tempo na Mangueira. Então, em gratidão, falei: quero pelo menos dois sambas que não se classificaram: um é do Tantinho, que é baluarte da Mangueira, e o outro é do Nelson Sargento, que é os 100 anos da Mangueira. Então, pedi para Caetano fazer o do Nelson, e o Tantinho faz o próprio. Ficou lindo demais. Devo entregar de presente para a Mangueira no fim de outubro e aí faz o lançamento.

Está ouvindo algum cantor novo?

No momento, não estou ouvindo nada, porque tenho que me ouvir, ouvir o Letieres (risos). E só ouvir o Letieires é um pancadão (risos). Mas eu ouço, tem um compositor novo que eu gosto, que é o Tim Bernardes, canta lindo. Eu queria cantar um canção dele. Conheci ele na casa de Caetano. Quero gravar, não entrou porque não deu tempo. Ele fez uma música para mim. Mas a que eu ia cantar é Recomeçar, a primeira que me deixou alucinada.

Você falou do Rio, do Brasil. Como você vê hoje o País no novo governo?

Não sei se sei falar, negócio de política não me aproximo muito. Tenho tido algumas tristezas. Esse caso do índio me magoou (sobre a morte do líder indígena waiãpi). Isso me entristece. Acho índio uma raridade no mundo ainda. É muito difícil de se entender, se engolir e conviver com isso, essa morte. Perigoso, perigoso.

E em relação à cultura?

Desprezo generalizadaço, que já vem, já vem, já vem, que só agrava, só agrava, só agrava. Tenho medo do que pode acontecer. Tive irmão exilado, situações difíceis, amigos mortos na ditadura. Começa tanta coisa estranha, você fica assustado, fica preocupado. Eu amo o Brasil, mas um Brasil de dentro, que se autorrespeita, que se autoadmira, e que se vê tão lindo do jeito que é, tão forte, tão majestoso. O sertanejo, a nobreza dele, tratado em prosa, verso, por Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, e que eu só reverencio, e quero aprender aquela sabedoria de não ter nada e ser grato a Deus e ser feliz, tocar sua sanfona e viver, ter seus filhos e criá-los, trabalhar e acreditar, confiar em Deus. Acho tudo isso comovente, e me entristece isso não ser chave principal do Brasil. Sei que política tem outras razões e outros motivos, sei pouco porque não entendo, então é estupidez eu falar, mas sei que tem outros interesses-chave. É o máximo que posso te dizer. Estou triste.

(…)

Categorias
Destaque
Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

Relacionado por