Citado após postagem obscena de Bolsonaro, ator de “La Bete” considera que viveu um “processo de esquizofrenia coletiva”

Em entrevista a coluna de Monica Bergamo, na Folha, o coreógrafo Wagner Schwartz conta que volta a se apresentar em SP e diz que superou a depressão e o medo para pensar em coragem e trabalho.

O nome de Wagner Schwartz voltou a ser citado nas redes depois que o presidente Jair Bolsonaro divulgou no Twitter o vídeo de um homem urinando em outro no Carnaval.

Em setembro de 2017, o coreógrafo foi acusado de pedofilia e recebeu mais de 150 ameaças de morte depois que uma foto da performance “La Bête”, feita por ele no MAM de SP, foi divulgada na internet.

O vídeo de Bolsonaro sobre o carnaval mobilizou críticos e apoiadores do presidente. Os que o defenderam invocavam a cena do MAM como exemplo de cenas impróprias e que devem ser censuradas, comparando a performance à cena obscena divulgada pelo presidente.

Mesmo após 2 anos do caso “La Bête” no MAM, o performance ainda recebe ameaças e mensagens de ódio nas redes sociais, conta com a voz alterada.”Até hoje, quando eu falo sobre o que aconteceu, fico completamente desconcertado.”, diz.

O caso foi alvo de investigação do Ministério Público Estadual e Federal, e de uma CPI presidida por pelo então senador Magno Malta. Em todos os casos, não se constatou a alegada pedofilia e as investigações foram encerradas.

“Quando soube que tinha acabado tudo isso, fui jantar com a minha família. Comemorei o fim de uma loucura, de um processo de esquizofrenia coletiva. Não era o meu problema que tinha acabado, mas sim o dos outros. A sensação do corpo era de liberdade”, diz.

Schwartz acredita que o estigma da nudez masculina tenha contribuído para que a imagem viralizasse e fosse atacada. “A nudez feminina virou produto, né? Ela é comercializada. Se eu fosse uma mulher deitada no chão, nua, e um menino tivesse me tocado, a gente não estaria conversando sobre isso.”

“Fui torturado. Hoje, a atualização da palavra tortura é linchamento virtual. Sofri fisicamente todos os ataques contra mim.” Ele conta que teve pesadelos, ansiedade e perdeu o sono.

Olhando para trás, Schwartz enxerga que o “caso La Bête” estava inserido em um contexto maior de ataque aos artistas e cita o exemplo do “Queermuseu”. “Nós servimos de laboratório para essa disseminação de fake news no WhatsApp.”

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