Dublador de Wolverine que foi ator da Globo disse que Boni o fez se “sentir humilhado”

Isaac Bardavid, dublador de Wolverine. Foto: Reprodução/YouTube

Paulo Sampaio no Universa do UOL informa que o ator Isaac Bardavid, 88 anos, trabalha há 61 na TV e já fez 43 novelas, mas o público nas ruas costuma reconhecê-lo mais pela voz do que pela fisionomia. Quando ele fala, os ouvidos ao redor instintivamente ligam sua figura à de personagens como o Esqueleto (He-Man), Wolverine, Tigrão (ursinho Pooh) e Freddy Krueger, entre muitos outros. Todos dublados por ele.  Momentaneamente, os fãs daqueles personagens transferem sua admiração para Bardavid, que, por sua vez, não se incomoda em ser idolatrado “por tabela”. “O trabalho do dublador não é arte, é uma colagem feita em cima do que já existe”, diz ele, sem afetação de falsa modéstia. Eleito em duas ocasiões o melhor dublador do Brasil (nos anos 1960 e em 2017), Isaac Bardavid acredita que “arte é aquilo que você cria a partir do nada”. “Quando o sujeito tem um bloco de mármore e esculpe um Davi, aí sim a gente chama de arte”.  Em papeis coadjuvantes, Isaac Bardavid sempre  “funcionou muito bem” –como se diz no jargão televisivo. Depois de Francisco, ele foi o dono de um botequim em “Locomotivas” (Cassiano Gabus Mendes/1977), e irmão do pai do galã (Márcio Hayala/Tony Ramos), em “O Astro” (Janete Clair/1978) –duas novelas de muito sucesso.  Nos anos seguintes, em um momento particularmente ruim de trabalho, ele se perguntou com amargura porque não era contratado da TV Globo, se todos os colegas que começaram junto com ele tinham sido.

De acordo com a publicação, havia uma suspeita. “Eu era do tipo que ia para a televisão, fazia o meu trabalho e voltava pra casa. Na época, os atores se reuniam no (restaurante) Fiorentina (famoso ponto de encontro de artistas no Leme, zona sul do Rio), eu ia para Niterói (na região metropolitana, onde mora até hoje). Não sabia nem quem era o chefão na Globo, o sujeito que mandava em todo mundo”. Um dia, Isaac Bardavid resolveu ir pessoalmente à direção da emissora. “Tomei coragem e bati na sala do Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, diretor-geral)”, lembra.  “A secretária perguntou a quem deveria anunciar, eu disse, e momentos depois ela me fez sinal para entrar”. Boni, que nunca havia visto o ator em pessoa, o recebeu de braços abertos: “Bardavid! A que devo a honra?”. Muito humildemente, o visitante explicou sua angústia. Em tom de surpresa, Boni perguntou: “Mas você não é contratado?? Então está resolvido! Vai ser agora!” O coração do desempregado, pai de três filhos, pulsava: “Ele (Boni) pegou o telefone na minha frente e fez uma ligação. Em seguida, disse para eu passar na sala do (Edwaldo) Pacote (assessor administrativo) para acertar minha contratação.”

A espera por Pacote, segundo Bardavid, levou cerca de duas horas. “Em dado momento, eu perguntei à secretária se ainda demoraria muito tempo. Ela me informou que ‘infelizmente o sr. Pacote teve um problema de saúde em casa e precisou ir embora’. Abrindo a agenda, ela perguntou: ‘Vamos remarcar para quarta-feira (dali a dois dias)? Pode ser às 14h?”‘. Na quarta-feira, Bardavid enfrentou mais duas horas de espera, seguidas de outra desculpa da secretária e novo agendamento de horário. Nunca mais voltou. “Compreendi que não ia ter contratação nenhuma. Aquilo era combinado entre os dois (Boni e Pacote). Eles iam me deixar esperando até que eu desistisse. Não devo ter sido o primeiro. Saí dali me sentindo muito humilhado, o último dos atores”. O blog procurou Boni, mas sua secretária informou que ele estava em trânsito, na ponte-aérea, e não se dispôs a anotar um recado. Edwaldo Pacote morreu em 2009, completa o portal.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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