Ex-presidente da Ancine: Único filtro que a democracia admite é o do cidadão

Manoel Rangel , ex-presidente da Ancine. Foto: Divulgação

A jornalista Thais Arbex entrevistou o produtor Manoel Rangel , ex-presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema) de 2006 a 2017, na Folha de S.Paulo.

(…)

O presidente Jair Bolsonaro falou sobre impor um filtro ao financiamento de filmes brasileiros e extinguir a Ancine. Qual o impacto dessas medidas? 

Estamos vivendo um momento em que não dá para se levar em conta tudo o que é dito. As coisas são ditas sem se pensar e se refletir sobre elas. São palavras ao vento na maior parte das vezes. Mas, de toda maneira, a Constituição brasileira proíbe a censura e determina o estímulo à produção audiovisual brasileira geral e independente. O Estado deve se manter longe da escolha de temas, conteúdos, abordagens das obras audiovisuais. Essa decisão pertence à sociedade. Ela define o que quer e o que não quer ver, o que faz sucesso e o que não faz. 

Qual foi a influência da Ancine para o audiovisual? 

O setor mudou drasticamente desde a criação da Ancine. Para melhor. O Brasil faturou na economia audiovisual em 2007 cerca de R$ 8,5 bilhões; em 2014, foram R$ 24,5 bilhões –o que representou 0,46% [do PIB]. É equivalente à indústria do papel, à indústria têxtil, à farmacêutica, o que dá o tamanho da expressão do audiovisual na economia brasileira. No momento de criação da Ancine, em 2001, o Brasil tinha pouco mais de 1.800 salas de cinema. Em 2018, chegou a mais de 3.400.

Qual é o cenário hoje? 

Enquanto a economia do Brasil patina desde 2015, o setor audiovisual não parou de crescer, crescendo cerca de 8% ao ano. O que mantém isso aquecido? O trabalho dos empreendedores, criadores, realizadores, mas também a atividade da Ancine, da política pública de cinema e audiovisual, mesmo no momento em que a agência vive uma crise de gestão. 

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O produtor Luiz Carlos Barreto disse ao jornal “O Globo” que nem na época da ditadura houve filtro como defende Bolsonaro. 

O Barreto disse a verdade. O melhor filtro quem faz é o cidadão tomando a sua decisão de assistir este ou aquele filme, esta ou aquela série. Esse é o único filtro que uma democracia pode admitir. Democracias não admitem censuras.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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