Felipe Neto: “você precisa estudar para ser progressista. O reacionarismo é infinitamente mais compartilhado”

Felipe Neto. Foto: Reprodução/YouTube

O jornalista Morris Kachani entrevistou o youtuber Felipe Neto no Estado de S.Paulo.

Vale ler um trecho.

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Você leu esta matéria do New York Times, sobre inteligência artificial e You Tube no Brasil? https://www.nytimes.com/2019/08/11/world/americas/youtube-brazil.html

Gostaria que comentasse a respeito. Será que os gigantes da tecnologia deveriam ser mais bem regulamentados ou isso significa cerceamento à liberdade de expressão?

Esse debate precisa ser aprofundado, precisamos dialogar muito mais sobre o tema. Uma das coisas importantes que precisa ficar clara é: o YouTube não promoveu esses vídeos de extrema-direita de propósito, não foi a ferramenta que fez isso, foi o algoritmo e a inteligência artificial que promoveram aquilo que o público estava ávido por consumir. O sistema é matemático, é frio: ele é moldado pelo consumo. Se o público brasileiro tivesse se encantado por vídeos de esquerda, a radicalização poderia ter ido por outro rumo, porque o YouTube iria promover na mesma medida. No mundo da comunicação, eu sempre digo: as pautas progressistas são antipáticas. E o motivo é muito simples: você precisa estudar para ser progressista. O que é mais fácil de ser compartilhado na internet? Um vídeo sobre criminologia analisado sob o aspecto sócio-cultural e as medidas que podem ser implementadas na base de formação para moldar o caráter de um indivíduo, ou um vídeo de um bandido tomando um tiro da polícia com o influenciador falando “tem que matar esses vagabundos!”? O reacionarismo é infinitamente mais compartilhado porque ele é superficial, feito de frases de impacto e movido pelo ódio, enquanto o progressismo só pode ser entendido com leitura, debate e troca de conhecimento. No espectro do que é “popular”, o reacionarismo sempre vai ter ampla vantagem enquanto tivermos uma população com baixíssimo nível de educação. O debate agora tem que ser: o que fazer num país onde o povo é tão pouco educado que se seduz facilmente pelo discurso de ódio? Como contornar isso? Como evoluir? É isso que precisamos debater, não só possíveis regulamentações em cima de veículos de comunicação.

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E do Lula?

Trato o Lula como uma decepção. Sem dúvida foi o Presidente que mais criou projetos voltados para as classes mais pobres do país, mas também foi o que mais fez pelos bancos, o que mais fortaleceu a velha política, aparelhou o Estado e manteve o establishment. Minha maior crítica ao PT e ao Lula não é em relação à corrupção, porque essa sempre existiu. Minha maior crítica foi porque ele prometeu quebras de paradigmas, mas não entregou, apenas fortaleceu os banqueiros e os verdadeiros donos desse país. O Lula fez muita coisa positiva no Brasil, negar isso é um atestado de insanidade ou falta de estudo, mas ele falhou nos aspectos mais importantes e que o Brasil mais precisava para poder manter o rumo econômico de crescimento e luta contra a desigualdade social: ele não enfrentou quem deveria ter enfrentado. Além disso, o desastre econômico que o PT trouxe ao Brasil durante o governo Dilma é algo que beira o inacreditável, mas aí o Lula já não era mais Presidente.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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