No Brasil para apresentação de “Rigoletto”, soprano critica a falta de incentivo à arte no governo Bolsonaro

Carla Cottini || Créditos: Divulgação

O site Glamurama entrevistou a soprano brasileira Carla Cottini. Ela está no país para apresentar no Theatro Municipal de São Paulo uma das óperas mais importantes do romantismo italiano: ‘Rigoletto’de Giuseppe Verdi.

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G: Você já passou por importantes casas de ópera do mundo, qual a diferença entre se apresentar fora e aqui no Brasil?
CC
: Sinceramente não existe nenhuma diferença. Uma coisa é fato: estar ensaiando e poder ficar na casa da minha família, que é toda de São Paulo, é maravilhoso. E, claro, a apresentação em si é uma delícia, com pessoas que a gente ama na plateia. Mas minha conexão com a obra é tão intensa que não importa onde estou.

 G: Acha que a ópera, assim como outros espetáculos líricos, têm público no Brasil?
CC
: Com certeza temos muito mais demanda do que oferta. Para ter uma ideia, são oito espetáculos de ‘Rigolleto’ na capital paulista e os ingressos já estão todos esgotados. O brasileiro é um povo que tem o coração muito aberto para arte, muito sensível para a música. Esta é uma arte que não foi bem divulgada por aqui, mas farei tudo o que estiver ao meu alcance para mudar esse cenário. Essa música mudou minha vida, é uma conexão metafísica.

G: Hoje você tem destaque no universo da música erudita, mas precisou sair do Brasil para alcançar essa visibilidade. Por que acha que as coisas ainda são assim por aqui?
CC
: No Brasil falta meio de estudo de música lírica. Na verdade falta educação como um todo. Para interpretar uma ópera é importante acessar outras culturas, conhecer a arte de outros lugares. Não tem como uma pessoa sem formação cantar em uma obra dessas, se conectar com o personagem. Infelizmente nossa educação é muito precária também no mundo artístico. Lá fora a música erudita é muito valorizada. Toda semana vou ao teatro e isso vai formando a gente. Sinto que aqui as pessoas não sabem nem por onde começar.

G: Você mora em Berlim atualmente. De modo geral, a arte é mais valorizada na Europa que por aqui…
CC: É um assunto delicado. Pelo atual governo a arte sem dúvida é desvalorizada. Falta apoio de figuras do poder, sim. Isso porque não sabem a importância que a arte tem. Essa é a diferença. Na Europa, os governos sabem o que significa conservar um teatro, uma biblioteca… sabem o quanto isso reflete na sociedade, como arte transforma as pessoas. Mas hoje no Brasil parece que as pessoas não entendem isso.

G: Qual a sua opinião sobre as atuais diretrizes de governo, que não dão grande apoio à arte e educação?
CC: Acho que a educação é claramente a coisa mais importante para qualquer lugar do mundo. O contato com a arte te engrandece de uma maneira muito profunda. Não incentivar a arte e a educação é cavar a própria cova do país.

G: Além da música clássica, quais outros estilos você curte ouvir?
CC
: Amo samba, bossa nova, música latina, tipo salsa e umas coisas mais antigas. Me conecto com muitos tipos de música. Quem me inspira muito é Maria Bethânia. Foi ela que me ensinou recitar o texto e, mesmo que eu cante em italiano, tento imaginar como seria Bethânia recitando aquilo em italiano, tento ‘roubar’ seu jeito de falar, que é tão claro e cheio de energia.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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