A jornalista Andréa Martinelli entrevistou Henrique Vieira, ex-vereador e pastor da Igreja Batista do Caminho, fundada em Niterói (RJ), no HuffPost Brasil.
(…)
O que exatamente a Bíblia diz sobre relações homoafetivas?
A pergunta “o que a Bíblia diz?” é uma pergunta muito perigosa. Porque a Bíblia contém mais de 60 livros, gêneros literários diferentes. Textos escritos em épocas e contextos culturais diferentes. Ou seja, “o que a Bíblia diz?”, eu posso pegar qualquer texto, isolar do seu contexto e torná-lo um pretexto para dizer o que eu quiser. Então eu acho que a pergunta é outra; é “como eu leio a Bíblia?”. Qual é o critério que eu assumo como cristão para ler a Bíblia como palavra de Deus e entender o que é circunstancial, uma particularidade daquela cultura, e o que é essencial, portanto é uma palavra eterna que se aplica para todas as pessoas. Se eu não tiver esse discernimento e com muita consciência, e escolher esse critério, eu posso usar a Bíblia para fazer o que eu quiser. E ao longo da História já se usou a Bíblia para legitimar a escravidão do povo negro, a submissão das mulheres, a colonização genocida da América e por ai vai.
Então, o que eu quero dizer é: todo texto precisa ser contextualizado. Como cristão, o meu filtro de interpretação é a vida e os ensinamentos de Jesus. Jesus é o máximo da revelação de Deus para nós, cristãos. Então eu vou ler toda a Bíblia a partir da figura do Cristo e da testemunha do Cristo, entendeu? Então, quando eu contextualizo o texto e leio o texto a partir do critério Jesus, eu começo a entender o que é particularidade histórica ― e fica lá ― e o que é essencial e vem para o presente.
Atualmente um discurso sobre “cura gay” ganhou notoriedade e, em alguns casos, é amparado por grupos religiosos. Qual deveria ser o papel da religião no combate à violência contra a população LGBT?
O que deveria escandalizar a igreja não é o fato de duas mulheres se beijarem. É o fato de elas serem violentadas, agredidas, humilhadas, estupradas, expulsas de casa por isso. O pecado não é a livre manifestação do afeto; o pecado é o preconceito, é a intolerância. É isso que mata, que leva ao suicídio tantas vezes, ódio em tudo quanto é canto. Eu acho que um olhar bíblico mais profundo consegue perceber que o pecado é a falta de amor, não a manifestação livre dele.
(…)
Conheça as regras do debate