Pedro Cardoso lembra de Chaplin e diz: “A mensagem fascista se comunica pela exposição de valentia primária”

Pedro Cardoso e Chaplin. Foto: Reprodução/Instagram

Do Instagram do ator Pedro Cardoso, ex-Globo:

Bom dia.

Nos trago um ator dos maiores, um poeta do humor, Charlie Chaplin. Sugiro O GRANDE DITADOR. Foi filmado 1940, ainda antes de o nazismo ser conhecido em todo o seu horror; foi filmado em momento semelhante ao que estamos hoje, na vésperas da instalação de um estado absolutista para o qual nos conduz a involução de extrema direita em curso. Venho ao filme por conta da cena da qual reproduzo um trecho.

Nela, Chaplin faz o ditador nazista vociferar sons sem palavras, num comentário sublime sobre o vazio de alguns discursos políticos. A mensagem fascista se comunica, não por palavras e por argumentos construídos com elas, mas pela exposição de uma emoção de valentia primária, uma dança de guerra na qual as palavras – sempre carregadores do sentido mínimo do que dizem sozinhas – devem ser suplantadas pelos gritos de slogans já conhecidos do público.

É a farsa da retórica esvaziada. Como bem nos diz Chaplin, a mensagem está já aceita pela audiência; não há necessidade de argumentar. Em verdade, se quer evitar argumentação para impedir que a falsidade da mensagem seja revelada. Todos os fascismos se expressam assim: dizendo o que já foi aceito pois sempre o q diz é uma percepção do que desejam ouvir. No caso aqui foi o combate a violência e a corrupção de esquerda; a valorização da familia e de deus em oposição as ditas perversões de esquerda etc. Mas nada se argumentou em demonstração do que se afirmava.

Não se devia fazê-lo pois não há como provar uma mentira. Bandidos prometeram combater o banditismo, como rapidamente se revelou em tantas suspeitas já hoje imensas e evidentes. Mas o que me preocupa é o mesmo uso da retórica vazia por quem ao nazifascismo se opõe. Supormos que o que temos a dizer é ja conhecido nos fará esquecermos a argumentação e buscarmos a mesma comunicação através de uma emoção de revolta de fácil aceitação.

Quando vejo líderes partidário discursando no congresso dos seus partidos sinto-me diante de palavras vazias como as da cena de Chaplin. É uma encenação de harmonia.

Palavras não criam realidades; mas podem criar ilusões; e precisamos de reais reflexões.

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Bom dia. Nos trago um ator dos maiores, um poeta do humor, Charlie Chaplin. Sugiro O GRANDE DITADOR. Foi filmado 1940, ainda antes de o nazismo ser conhecido em todo o seu horror; foi filmado em momento semelhante ao que estamos hoje, na vésperas da instalação de um estado absolutista para o qual nos conduz a involução de extrema direita em curso. Venho ao filme por conta da cena da qual reproduzo um trecho. Nela, Chaplin faz o ditador nazista vociferar sons sem palavras, num comentário sublime sobre o vazio de alguns discursos políticos. A mensagem facista se comunica, não por palavras e por argumentos construídos com elas, mas pela exposição de uma emoção de valentia primária, uma dança de guerra na qual as palavras – sempre carregadores do sentido mínimo do que dizem sozinhas – devem ser suplantadas pelos gritos de slogans já conhecidos do público. É a farsa da retórica esvaziada. Como bem nos diz Chaplin, a mensagem está já aceita pela audiência; não há necessidade de argumentar. Em verdade, se quer evitar argumentação para impedir que a falsidade da mensagem seja revelada. Todos os fascismos se expressam assim: dizendo o que já foi aceito pois sempre o q diz é uma percepção do que desejam ouvir. No caso aqui foi o combate a violência e a corrupção de esquerda; a valorização da familia e de deus em oposição as ditas perversões de esquerda etc. Mas nada se argumentou em demonstração do que se afirmava. Não se devia fazê-lo pois não há como provar uma mentira. Bandidos prometeram combater o banditismo, como rapidamente se revelou em tantas suspeitas já hoje imensas e evidentes. Mas o que me preocupa é o mesmo uso da retórica vazia por quem ao nazifascismo se opõe. Supormos que o que temos a dizer é ja conhecido nos fará esquecermos a argumentação e buscarmos a mesma comunicação através de uma emoção de revolta de fácil aceitação. Quando vejo líderes partidário discursando no congresso dos seus partidos sinto-me diante de palavras vazias como as da cena de Chaplin. É uma encenação de harmonia. Palavras não criam realidades; mas podem criar ilusões; e precisamos de reais reflexões.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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