Pedro Cardoso: “Poder e arte não se entendem. A arte é contestação do poder”

Pedro Cardoso. Foto: Reprodução/Instagram

Do Instagram do ator Pedro Cardoso, ex-Globo:

Judy Collins cantando JOAN OF ARC, de Leonard Cohen.

Procurem na internet. É fácil de achar.

Leonard é um poeta imenso. Me foi apresentado pelo meu amigo Jorge Furtado. Judy é uma extraordinária cantora e uma interprete especial de Leonard. Foram muito amigos.

Judy e Leonard são de esquerda. Passo para reafirmar o que disse ontem: grandes artistas são de esquerda! Não há beleza que possa surgir da indiferença e do descanso para com as injustiças do mundo. Quando artistas se declaram não de esquerda, como Vargas Lhosa, por exemplo, ainda assim se pretendem dedicados a liberdade e creem que a justiça social será o resultado dela. Nós, de esquerda, pensamos que será a justiça social que produzirá a liberdade. É uma diferença talvez apenas pragmática. E, convenhamos, artistas não tem muito talento para pragmatismos. Mas a coincidência entre a grandeza da obra – a proximidade da beleza a que chega – e o esquerdismo do artista é absoluta. Por mais bons livros que Vargas Lhosa tenha escrito nenhum deles chega aos pés de Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquês; um esquerdista notório.

Mas por esquerda eu entendo um leque muito amplo de visões. Há muitos modos de ser de esquerda se considerarmos que ser de esquerda é desejar um mundo onde ninguém será pobre por ter a sua força de trabalho explorada por outro. Se pobre alguém vier a ser, será porque não quis não ser. Agora, hipocrisia, falsidade há em todo lugar. Boas intenções também. Mas arte, não. Arte só há onde há desejo sincero de liberdade. Eu não conheço grande artista que seja inimigo do seu povo; e servir ao desejo de ascensão social que se esconde no populismo nazifascista pode até parecer ser popular; mas não é. É valer-se da cultura popular para, ao apequena-la, pô-la a serviço da mediocridade.

Faço questão de afirmar esta minha opinião neste momento em que alguns artistas de carreira irão se associar ao projeto messiânico de poder. Um artista autêntico provoca o pensamento; e o movimento das ideias é inimigo de todo poder. Poder e arte não se entendem. A arte é contestação do poder, social e psicológico, sempre.

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Judy Collins cantando JOAN OF ARC, de Leonard Cohen. Procurem na internet. É fácil de achar. Leonard é um poeta imenso. Me foi apresentado pelo meu amigo Jorge Furtado. Judy é uma extraordinária cantora e uma interprete especial de Leonard. Foram muito amigos. Judy e Leonard são de esquerda. Passo para reafirmar o que disse ontem: grandes artistas são de esquerda! Não há beleza que possa surgir da indiferença e do descanso para com as injustiças do mundo. Quando artistas se declaram não de esquerda, como Vargas Lhosa, por exemplo, ainda assim se pretendem dedicados a liberdade e creem que a justiça social será o resultado dela. Nós, de esquerda, pensamos que será a justiça social que produzirá a liberdade. É uma diferença talvez apenas pragmática. E, convenhamos, artistas não tem muito talento para pragmatismos. Mas a coincidência entre a grandeza da obra – a proximidade da beleza a que chega – e o esquerdismo do artista é absoluta. Por mais bons livros que Vargas Lhosa tenha escrito nenhum deles chega aos pés de Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquês; um esquerdista notório. Mas por esquerda eu entendo um leque muito amplo de visões. Há muitos modos de ser de esquerda se considerarmos que ser de esquerda é desejar um mundo onde ninguém será pobre por ter a sua força de trabalho explorada por outro. Se pobre alguém vier a ser, será porque não quis não ser. Agora, hipocrisia, falsidade há em todo lugar. Boas intenções também. Mas arte, não. Arte só há onde há desejo sincero de liberdade. Eu não conheço grande artista que seja inimigo do seu povo; e servir ao desejo de ascensão social que se esconde no populismo nazifascista pode até parecer ser popular; mas não é. É valer-se da cultura popular para, ao apequena-la, pô-la a serviço da mediocridade. Faço questão de afirmar esta minha opinião neste momento em que alguns artistas de carreira irão se associar ao projeto messiânico de poder. Um artista autêntico provoca o pensamento; e o movimento das ideias é inimigo de todo poder. Poder e arte não se entendem. A arte é contestação do poder, social e psicológico, sempre.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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