Pedro Cardoso sobre evangélicos: “quando a fé esconde ambição de poder, ela produz a violência dos ofendidos”

Pedro Cardoso. Foto: Reprodução/YouTube

Do Instagram do ator Pedro Cardoso, ex-Globo:

Bom dia.

A mídia ninja publicou vídeo no qual cristãos enfrentam um grupo de pessoas – não consegui identificar unidos pelo o quê. Em dado momento, um dos cristãos faz ameaça de agressão física justificando-se: “você ofendeu a minha religião!” Fiquei me perguntando: Pode ofender uma religião quem nela não crê? Não. Desfazer da crença não é ofensa a quem crê; é manifestar descrença daquilo que outros creem.

Os crentes descreem do ateísmo dos outros e não estão ofendendo os ateus ao afirmarem as suas crenças. Afirmação que os monoteístas fazem com tanta convicção que se julgam no direito e na obrigação de convencer os outros da crença deles. (O mesmo não se passa com credos politeístas). Bem, quem se determina a oferecer sua crença deve admitir a resistência a esse oferecimento. E essa resistência poderá se fazer valendo-se do humor para desconstruir a verdade da crença oferecida como verdade única. Ainda mais quando esse oferecimento é dissimulação de uma tentativa de imposição.

Toda crença está sujeita a ser ridicularizada pelos descrentes dela. Assim fazem os católicos com os protestantes e com os umbandistas; estes com aqueles, todos com todos. Mantendo-se o respeito pela pessoa é ato legítimo e civilizado desconstruir a crença dela. Só pode ofender a deus quem crê em deus ou deuses. Eu não ofendo ninguém, nem cristãos ou umbandistas, quando afirmo que nenhum deus existe; nem eles me ofendem quando afirmam o contrário. E, eles e eu, fazemos graça – e até deboche – de nossas diferenças. O respeito que devemos é ao ato de crer e não aos credos.

Não posso reverenciar o que não creio mas devo respeitar quem crê. Se fazemos graça com as crenças alheias é para revelar o que, para nós, é falso na verdade do outro. Há quem deboche do meu ateísmo e cabe a mim rir de mim junto com eles contanto que o deboche seja da descrença e não de mim.

É sutil diferença mas é toda a diferença. Quando a fé é apenas fé ela produz harmonia; mas quando a fé esconde ambição de poder ela produz a violência dos ofendidos.

A ninguém eu imponho a minha descrença. Não quero poder por não crer em nada. Só paz de espírito.

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Bom dia. A mídia ninja publicou vídeo no qual cristãos enfrentam um grupo de pessoas – não consegui identificar unidos pelo o quê. Em dado momento, um dos cristãos faz ameaça de agressão física justificando-se: “você ofendeu a minha religião!” Fiquei me perguntando: Pode ofender uma religião quem nela não crê? Não. Desfazer da crença não é ofensa a quem crê; é manifestar descrença daquilo que outros creem. Os crentes descreem do ateísmo dos outros e não estão ofendendo os ateus ao afirmarem as suas crenças. Afirmação que os monoteístas fazem com tanta convicção que se julgam no direito e na obrigação de convencer os outros da crença deles. (O mesmo não se passa com credos politeístas). Bem, quem se determina a oferecer sua crença deve admitir a resistência a esse oferecimento. E essa resistência poderá se fazer valendo-se do humor para desconstruir a verdade da crença oferecida como verdade única. Ainda mais quando esse oferecimento é dissimulação de uma tentativa de imposição. Toda crença está sujeita a ser ridicularizada pelos descrentes dela. Assim fazem os católicos com os protestantes e com os umbandistas; estes com aqueles, todos com todos. Mantendo-se o respeito pela pessoa é ato legítimo e civilizado desconstruir a crença dela. Só pode ofender a deus quem crê em deus ou deuses. Eu não ofendo ninguém, nem cristãos ou umbandistas, quando afirmo que nenhum deus existe; nem eles me ofendem quando afirmam o contrário. E, eles e eu, fazemos graça – e até deboche – de nossas diferenças. O respeito que devemos é ao ato de crer e não aos credos. Não posso reverenciar o que não creio mas devo respeitar quem crê. Se fazemos graça com as crenças alheias é para revelar o que, para nós, é falso na verdade do outro. Há quem deboche do meu ateísmo e cabe a mim rir de mim junto com eles contanto que o deboche seja da descrença e não de mim. É sutil diferença mas é toda a diferença. Quando a fé é apenas fé ela produz harmonia; mas quando a fé esconde ambição de poder ela produz a violência dos ofendidos. A ninguém eu imponho a minha descrença. Não quero poder por não crer em nada. Só paz de espírito.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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