Pedro Cardoso sobre livro de Ali Kamel: “somos todos racistas. Haver quem afirme o contrário confirma isso”

Pedro Cardoso criticou o livro de Ali Kamel. Foto: Reprodução/TV Brasil/Divulgação

No Instagram, o ator Pedro Cardoso, ex-Globo, criticou o livro “Não Somos Racistas” do jornalista da Globo Ali Kamel:

É sempre valioso ler; mesmo livros que defendem teses contrárias às nossas. Ontem, a globo news reuniu jornalistas africano-brasileiros para debater o racismo, parece que depois de ter recebido críticas por te-lo feito antes sem a presença de nenhum. Ali Kamel, o autor do livro da foto, trabalha como diretor geral de jornalismo da rede globo. Diz ele que nós não somos racistas mas se viu na circunstância de promover debate entre africanos-brasileiros sem brancos de tanto que apenas brancos têm voz na sociedade.

Bem é verdade que temos o carnaval, o samba, o futebol… enfim, diversos lugares onde a voz do preto se faz ouvir. Mas raramente em lugar de poder econômico. A maioria do dinheiro ainda está na mão daqueles mais diretamente descendentes do europeu. Eu li o livro de Ali mas não posso discuti-lo pelo mérito.

Já não me lembro bem a linha argumentativa que sustenta o título. Mas recomendo como leitura obrigatória para ser esquecida. Dele me ficou apenas o título. A força da afirmação, já por não contemplar dúvida sobre tema tão complexo, me marcou muito mais do que o miolo. A frase é autoritária em sua certeza.

Toda a afirmação o pode ser. Eu diria: somos todos racistas, com a mesma autoridade. E digo: somos todos racistas. Haver quem afirme o contrário diante do assassinato sistemático da presença africana e nativa por forças do estado brasileiro é, na minha opinião, o que confirma o racismo imenso que nos forma. Mas não creiam em mim.

Leiam o livro. Ali é um cientista social, pelo pouco que lembro, ele defende sua tese com argumentos consequentes.

Diante do fascismo messiânico que veio nos mostrar a sua face, eu me pergunto sobre os sinais de estar entre nós que ele nos deu. E negar o racismo brasileiro é um deles. Como tudo, o fascismo se constrói antes de se mostrar exuberante. Em sua construção, aspectos seus podem nos passar como não sendo ele, até para quem os manifesta.

Eu sou branco; não sou racista; mas serei se achar que não sou. Ninguém está livre da história.

Fica a sugestão do livro para que possam dar razão a ele ou a mim, ou a nenhum de nós 2.

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Bom dia. É sempre valioso ler; mesmo livros que defendem teses contrárias às nossas. Ontem, a globo news reuniu jornalistas africano-brasileiros para debater o racismo, parece que depois de ter recebido críticas por te-lo feito antes sem a presença de nenhum. Ali Kamel, o autor do livro da foto, trabalha como diretor geral de jornalismo da rede globo. Diz ele que nós não somos racistas mas se viu na circunstância de promover debate entre africanos-brasileiros sem brancos de tanto que apenas brancos têm voz na sociedade. Bem é verdade que temos o carnaval, o samba, o futebol… enfim, diversos lugares onde a voz do preto se faz ouvir. Mas raramente em lugar de poder econômico. A maioria do dinheiro ainda está na mão daqueles mais diretamente descendentes do europeu. Eu li o livro de Ali mas não posso discuti-lo pelo mérito. Já não me lembro bem a linha argumentativa que sustenta o título. Mas recomendo como leitura obrigatória para ser esquecida. Dele me ficou apenas o título. A força da afirmação, já por não contemplar dúvida sobre tema tão complexo, me marcou muito mais do que o miolo. A frase é autoritária em sua certeza. Toda a afirmação o pode ser. Eu diria: somos todos racistas, com a mesma autoridade. E digo: somos todos racistas. Haver quem afirme o contrário diante do assassinato sistemático da presença africana e nativa por forças do estado brasileiro é, na minha opinião, o que confirma o racismo imenso que nos forma. Mas não creiam em mim. Leiam o livro. Ali é um cientista social, pelo pouco que lembro, ele defende sua tese com argumentos consequentes. Diante do fascismo messiânico que veio nos mostrar a sua face, eu me pergunto sobre os sinais de estar entre nós que ele nos deu. E negar o racismo brasileiro é um deles. Como tudo, o fascismo se constrói antes de se mostrar exuberante. Em sua construção, aspectos seus podem nos passar como não sendo ele, até para quem os manifesta. Eu sou branco; não sou racista; mas serei se achar que não sou. Ninguém está livre da história. Fica a sugestão do livro para que possam dar razão a ele ou a mim, ou a nenhum de nós 2.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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