Angela Ro Ro: ‘Me assumir lésbica me custou a cegueira de um olho e metade da audição’

Do Diário de Pernambuco

Angela Ro Ro, cantora e compositora

“Sou carnaval. Minha alma é suada de carnaval”, diz Angela Ro Ro, ao Diario, para se definir diante do desafio de se adequar à impessoalidade das telas de celular nas lives. “Não consigo ser tecnológica. Não sou da geração internet, não sei mexer muito bem. O público dessa vez não está perto carnalmente, não trocamos as gargalhadas, as emoções, o calor. Eu fico tensa, canto, falo, ofereço meu humor e amor. Posso prometer também meu pianinho mediano e minhas músicas que considero bonitas. É uma sensação muito diferente, mas estou muito feliz”, admite a cantora e compositora, entre risadas em uma longa conversa por telefone marcada pela característica voz rouca e sotaque carioca que a fez “Ro Ro”, anos atrás. (…)

Isolada desde 18 de fevereiro, sozinha na casa que morou na infância com os pais, em Saquarema, no Rio de Janeiro, Ro Ro diz estar aproveitando a quarentena. “Tenho um jardim com uma mangueira e um cajueiro velhos que insistem em dar frutos, meu tecladinho que me dá uma alegria muito grande”, comenta. “Só estou preocupada com essas pessoas que não levam a sério. Não é uma gripezinha. Se isolem a despeito de qualquer decreto governamental. O que vão querer a médio prazo, cadáveres?”, questiona. (…)

Lésbica assumida, você carrega algumas marcas na pele sofridas por atos de homofobia. Como enxerga a nova geração e o crescente movimento em prol da liberdade de gênero e sexualidade?
Me assumir lésbica me custou a cegueira de um olho e meio e metade da audição. Fui espancada quatro vezes pela Polícia Militar e uma pela Polícia Civil. Sofri agressões físicas em 1981, 1983, dois episódios em 1984 e em 1990 por soco inglês, barras de ferro e cacetete. Era ditadura, mas acho que não tem ligação direta. Você não vê quantas crianças são mortas hoje em dia por bala perdida no Rio? Na época, também sofri muitos ataques homofóbicos de outras formas e cheguei a ser estuprada. Me orgulho de ter sido pioneira, fui a primeira artista a se dizer lésbica no Brasil.

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