“Feminista demais”: Malu Mulher não merece Regina Duarte, a Véia da Globo. Por Nathalí

Malu Mulher

Regina Duarte no papel de Malu Mulher

“Ela era muito feminista, coisa que eu nunca quis ser”, foi o que a atriz Regina Duarte disse ontem no Conversa com Bial sobre sua personagem em Malu Mulher, primeira série com um viés feminista da televisão brasileira.

Malu era uma mulher recém-divorciada que tentava sobreviver ao machismo estrutural do Brasil da década de 70 – que, nunca é demais dizer, é praticamente o mesmo machismo estrutural do Brasil de hoje.

Na época da exibição da série, que foi um sucesso absoluto, Regina falou à imprensa sobre a personagem e a emancipação feminina na sociedade.

Hoje, mais de quarenta anos depois, ela aparentemente mudou de ideia:

“Eu nunca me declarei feminista, apesar de ter interpretado Malu. Eu achava que não era por aí, que tinha caminhos intermediários, tinha que ter mais diálogo, não podia se afastar do homem.”

Ora, praticamente ninguém se declarava feminista na década de 70, isso é coisa da nossa geração. Naquela época, simplesmente se era feminista, em atos e em essência, como a imortal Leila Diniz, que teria honrado muito mais a personagem de Daniel Filho acaso ainda fosse viva à época.

Além do mais, o feminismo nunca quis afastar as mulheres dos homens – o objetivo é apenas retirá-las da subserviência.

Daniel Filho, autor da série e ex-marido de Regina, disse que não consegue entender a mudança de viés político e ideológico da atriz. “Regina e eu fomos juntos para Cuba, fomos recebidas pelo próprio Fidel Castro”, relatou à Folha de São Paulo.

De fato, fica difícil não se perguntar: como Regina Duarte conseguiu descer tão baixo a ponto de apoiar um político conservador eleito o mais abominável do mundo?

É claro que é necessário que as partidárias do feminismo de terceira onda – esse, que vivenciamos hoje – compreendam que, para senhoras de 72 anos – como é o caso de Regina – é difícil quebrar alguns tabus, e é preciso paciência.

Mas uma mulher que dava tapinha nas costas de Fidel Castro e protagonizou uma série televisiva censurada na Ditadura, Regina Duarte claramente regrediu no quesito consciência política e de gênero.

Em um episódio censurado de Malu Mulher, a personagem de Regina era contratada por um instituto para fazer uma pesquisa sobre prostituição em São Paulo.

Ela disfarçava-se de prostituta e acabava sendo presa.

O delegado, percebendo que se tratava de uma mulher instruída, temia que ela fosse jornalista (na época, um dos casos mais comentados nos jornais era o de um delegado que espancava prostitutas).

O caráter revolucionário da série, portanto, vai muito além do fato de Malu ser uma mulher recém divorciada – um tabu, à época. Tratava-se de uma crítica à sociedade conservadora de modo geral – a mesma que, hoje, Regina defende.

Ao aliar-se ao conservadorismo, Regina Duarte desonra a personagem, desonra a obra de Daniel Filho e desonra, sobretudo, a própria carreira e o próprio passado – como, aliás, já vem fazendo desde que declarou-se apoiadora de Jair Bolsonaro.

Malu Mulher, você é incrível. E Regina Duarte não te merece.

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Larissa Bernardes

Editora. Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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