Pedro Cardoso: “O desafio real desta crise é ela haver escancarado o custo humano da injustiça social”

Pedro Cardoso. Foto: Reprodução/YouTube

Do Instagram do ator Pedro Cardoso, ex-Globo:

Me parece haver algo estranho no vídeo que exibe a abertura de um shopping em SC. O vídeo não é jornalístico mas sim promocional. Todo o evento, com salva de palmas e solo de sax, é artificial.

Inclusive as pessoas com máscaras, transmitindo estarem embuídas responsabilidade social. E a euforia tentando esconder a apreensão… Tenho a impressão que pode ser uma encenação profissional. Custo a crer que nesse momento de preocupação com a morte alguém esteja excitado para fazer compras. E não estaria todo mundo sem dinheiro e sem emprego? Vão gastar as economias em algo não absolutamente essencial?

Deixarão de se proteger de um futuro incerto se esbanjando em promoções de inutilidades? Custo muito a crer que seja verdade. Não acredito que exista nenhuma ansiedade no momento por voltar a consumir. O que existe é desespero dos favorecidos pelo alucinado modelo contemporâneo de consumo em voltar a VENDER.

O vídeo me parece uma produção organizada para fins publicitários, custeada pelos interessados, e disfarçada de fato jornalístico. Se for, não sei se é crime, mas é mentira enganosa. A pandemia causou uma crise econômica; é preciso enfrenta-la; proteger o emprego, sobretudo, dizem e é verdade.

Quem quer proteger o emprego – ainda mais este precário assegurado pelas reformas trabalhistas e previdenciárias – quer se proteger é da falta de consumidores. Quem não ganha não gasta. Grandes fortunas são construídas com o comércio de miudezas para multidões de pobres. É o interesse desses empresários que está forçando o fim do isolamento sem preocupação alguma com risco à vida que causará.

Sobram pessoas para morrer nesse país inexistente que atende por Brasil. Nenhum dos donos das lojas daquele shopping estará trabalhando nas lojas que querem ver abertas; nem comprando nelas. Eles se fartam em ambientes exclusivos.

O desafio real desta crise é ela haver escancarado o custo humano da injustiça social histórica do mundo e do país nenhum que se faz nestas fronteiras nossas. Eu não pertenço a mesma nacionalidade que esses assassinos. Decidi não pertencer apesar do vínculo jurídico que não tenho como evitar.

No meu país sonhado não entram assassinos.

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Bom dia. Me parece haver algo estranho no vídeo que exibe a abertura de um shopping em SC. O vídeo não é jornalístico mas sim promocional. Todo o evento, com salva de palmas e solo de sax, é artificial. Inclusive as pessoas com máscaras, transmitindo estarem embuídas responsabilidade social. E a euforia tentando esconder a apreensão… Tenho a impressão que pode ser uma encenação profissional. Custo a crer que nesse momento de preocupação com a morte alguém esteja excitado para fazer compras. E não estaria todo mundo sem dinheiro e sem emprego? Vão gastar as economias em algo não absolutamente essencial? Deixarão de se proteger de um futuro incerto se esbanjando em promoções de inutilidades? Custo muito a crer que seja verdade. Não acredito que exista nenhuma ansiedade no momento por voltar a consumir. O que existe é desespero dos favorecidos pelo alucinado modelo contemporâneo de consumo em voltar a VENDER. O vídeo me parece uma produção organizada para fins publicitários, custeada pelos interessados, e disfarçada de fato jornalístico. Se for, não sei se é crime, mas é mentira enganosa. A pandemia causou uma crise econômica; é preciso enfrenta-la; proteger o emprego, sobretudo, dizem e é verdade. Quem quer proteger o emprego – ainda mais este precário assegurado pelas reformas trabalhistas e previdenciárias – quer se proteger é da falta de consumidores. Quem não ganha não gasta. Grandes fortunas são construídas com o comércio de miudezas para multidões de pobres. É o interesse desses empresários que está forçando o fim do isolamento sem preocupação alguma com risco à vida que causará. Sobram pessoas para morrer nesse país inexistente que atende por Brasil. Nenhum dos donos das lojas daquele shopping estará trabalhando nas lojas que querem ver abertas; nem comprando nelas. Eles se fartam em ambientes exclusivos. O desafio real desta crise é ela haver escancarado o custo humano da injustiça social histórica do mundo e do país nenhum que se faz nestas fronteiras nossas. Eu não pertenço a mesma nacionalidade que esses assassinos. Decidi não pertencer apesar do vínculo jurídico que não tenho como evitar. No meu país sonhado não entram assassinos.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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