Viúva do educador: ‘Ninguém pode competir com as ideias de Paulo Freire’

Paulo Freire. Foto: Agência Senado

A jornalista Maria Fernanda Rodrigues a viúva Nita Freira no Estado de S. Paulo.

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Por que Paulo Freire assusta hoje?

Existe muita gente adepta às ideias do Paulo e infelizmente com esse novo governo estão aparecendo muitas pessoas que contestam também. Para ele, educar era conscientizar, fazer um sujeito crítico da sociedade e não só na própria vida, mas para contribuição da sociedade toda. O atual governo não está interessado na melhoria das pessoas. Mas sim no poder próprio deles. Então o que acontece é que o governo não quer sujeitos conscientes e críticos. O Paulo tinha um pensamento revolucionário, não com armas, mas que quer o melhor para o outro. Hoje não podemos fazer crítica ao menor ato do presidente que ele logo incita uma descarga de impropérios ao mundo. As pessoas que assim pensam têm horror a educação que o Paulo propôs. Não é uma educação neutra, ela forma para um projeto político. Para a libertação e autonomia de todos os sujeitos. Desses que estão aí é exatamente o oposto. É um projeto colonial, conservador.

Qual foi o principal legado de Paulo Freire na opinião da senhora?

O legado de honradez e tolerância que não existe mais no Brasil, e de preocupação da dignificação dos homens e das mulheres.

Acredita que esses ataques vão influenciar, negativamente, a recepção de sua obra a partir de agora?

Que nada. Está aumentando o número de pessoas que está lendo Paulo. Há muito mais curiosidade. Só eu, neste mês, tive mais de 10 convites para participar de eventos em todo o Brasil. Ele está sendo homenageado como nunca. E as vendas aumentaram muito. Paulo é um ícone na história do Brasil. Um dos homens mais importantes neste País. É tido como maior educador do mundo todo. Isso fere os brios doentios das outras pessoas. Ninguém pode competir com as ideias dele. Nem copiar, sequer se antepor. Conchavos políticos podem tentar tirar esse título. Paulo é muito querido. Está tendo uma adesão enorme. Esses convites para falar sobre Paulo Freire estão vindo de todos os cantos – do Ceará ao Rio Grande do Sul.

Como imagina que Paulo Freire estaria se sentindo hoje?

Eu acho que Paulo estaria ainda trabalhando, apesar de 98 anos que estaria fazendo em 19 de setembro. Lúcido. E a resposta dele para esses insultos seria nenhuma, ele não responderia a nenhum insulto. Continuaria trabalhando com muita fé e esperança na sociedade brasileira e lutaria acreditando que seria possível fazer um país melhor, democrático e justo. Essas propostas políticas de Paulo fazem o lado de lá ficar desesperado.

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Pedro Zambarda de Araujo

Escritor, jornalista e blogueiro. Autor dos projetos Drops de Jogos e Geração Gamer, que cobrem jogos digitais feitos no Brasil e globalmente. Teve passagem pelo site da revista Exame e pelo site TechTudo. E-mail: [email protected]

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