‘PM precisa ser reformada’, diz BNegão depois de show censurado com protesto contra Bolsonaro. Por Mariana Ferrari

BNegão. Foto: Reprodução/Facebook

Publicado originalmente no site Ponte Jornalismo

POR MARIANA FERRARI

“A Polícia Militar precisa ser reformada e a Polícia Civil deveria estar na rua. Basicamente, porque civil tem que tratar civil e militar tem que estar dentro do quartel. Eles não têm o mínimo para [saber] lidar com a população, não tem como dar certo. No melhor caso vai dar errado e no pior vai dar tragédia”, disse BNegão, em entrevista à Ponte, depois que militares encerraram o seu show no 20º Festival de Inverno de Bonito (MS), na madrugada do último sábado (27/07).

A interrupção da apresentação aconteceu depois que o artista repudiou em público um caso de violência policial ocorrido contra servidores públicos da Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul, dois dias antes. Um dos PMs autores da agressão repudiada pelo artista estava trabalhando como segurança no local e não gostou nem um pouco.

BNegão conta que soube do caso durante a passagem de som, poucas horas antes do show, quando notou que o rosto de um integrante da produção do festival estava inchado. O rapaz contou que ele e outra servidora foram agredidos pela Polícia Militar durante uma oficina de skate, no mesmo município, na quinta-feira (25/7).

“Na saída da oficina de skate, a polícia começou a enquadrar, empurrar os moleques que estavam na oficina. Ela [produtora] entrou na frente para falar com o cara [policial], para desligar o giroflex”, conta. Em seguida, os policias desligaram o giroflex, mas aproximaram a viatura do local e passaram a “intimar” os meninos. Revoltada, a servidora tentou impedir a ação. “Daí os caras empurraram ela e, enfim, falaram que era desacato a autoridade e que ela agrediu os cinco policiais. Não tem como. Ela é uma baixinha. Ela é a ninja, mulher-maravilha”, completa, ironicamente, BNegão.

Ele também contou que o celular de um dos servidores, que gravou o momento da agressão, foi apreendido pelos militares e que a funcionária pública foi algemada. Os dois teriam passado a madrugada na delegacia.

Assim que BNegão soube da história, decidiu repudiar a violência para cerca de 3 mil pessoas que acompanhavam o festival. Duas músicas depois de sua fala contundente contra o ocorrido, militares avisaram que o show teria que ser encerrado. BNegão também usou o palco para repudiar o governo de Jair Bolsonaro e a morte da liderança indígena Wajãpi, após invasão de garimpeiros.

“Eu desci do palco e estava rolando uma música instrumental. Quando eu estava do lado de fora, veio o organizador, tipo tremendo de adrenalina, e falou: ‘Cara, vai ter que acabar o show agora. A polícia está aqui, está ameaçando. A Secretaria de Cultura veio falar que está rolando uma ameaça, de que se não acabar vai ter que acabar na base da força’”, contou.

Para o cantor, as falas do presidente da República e do Ministro da Justiça Sérgio Moro fortalecem esse tipo de ação.

Inconformado com a situação, BNegão subiu no palco, deu a letra e encerrou o show com uma hora de antecedência. “Falei: ‘A gente tem mais uma hora de show e a polícia mandou parar. A gente vai tocar mais duas músicas antes de acabar o show.’ Era o tempo que tinha”, completou. Gargalhando, o cantor conta que entre as músicas finais escolheu uma “falando da polícia”.

Fora do palco, decidiu esperar até sair do festival com a equipe. Todos estavam receosos e com medo de alguma ação. Ainda que ele tenha deixado o palco sem nenhuma resistência, o público foi dispersado com violência.

“Lá é faroeste total, né? Mato Grosso do Sul, eles resolvem tudo na bala. A gente ficou um bom tempo lá ainda. Relaxando, conversando com as pessoas, uma galera também foi lá tirar foto. Mas quem ficou, da plateia, acabou o show e eles [policiais] vieram dispersar a multidão empurrando com cassetete, apontando arma e alguns usaram gás de pimenta”, completou.

Em nota oficial, o Fórum Estadual de Cultura do Estado de Mato Grosso do Sul, repudiou a ação policial contra os servidores e a “censura durante o Festival de Inverno de Bonito”. Destacou, ainda, que “o episódio não foi uma ação isolada”. “As ações da guarnição que esteve no evento ocasionou danos morais ao princípio ético não somente a artistas, mas a uma mulher negra, servidora pública, no cumprimento de suas funções, acontecido no 20º Festival de Inverno de Bonito”, dizia a nota, divulgada nas redes sociais.

A Prefeitura Municipal de Bonito, em nota oficial, tentou justificar a atitude da polícia com o que chamou de “manifestação explícita” com caráter político. “Antes de tudo, é importante destacar que o evento é promovido pelo Estado de Mato Grosso do Sul e não tem viés político, sendo um festival cultural. A Prefeitura de Bonito entende que todos têm direito à expressão, mas não concorda com manifestações explícitas de lados políticos, ou mesmo desrespeito aos atuais governantes durante o evento, seja por artistas contratados e pagos com recursos públicos federais, estaduais e municipais, ou por parte do público presente”, dizia a nota divulgada pela assessoria de imprensa.

A Ponte procurou a assessoria de imprensa da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, mas não obteve retorno até a publicação.

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